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terça-feira, 10 de março de 2015

Viver é sempre uma caixinha de surpresas

Estava dirigindo quando recebi a triste notícia por via “whatsApp”, meu colega de turma tinha acabado de falecer. Mudo a estação do rádio do carro à procura de uma música que acalente minh’alma diante da notícia estarrecedora. Apesar de iminente, sabia que iria acontecer, mas nunca queremos admitir isso.

Enfim... a rádio “Cidade do rock” começa a tocar Pink Floyd. “Wish you were here”. Paro no sinal, e vejo uma leva de calouros da UFF tomando a frente dos carros, nas ruas de Niterói, no famoso trote semestral, todos vestidos a rigor (de palhaços, super-heróis e espantalhos), arrecadando dinheiro para a festa de boas vindas à Universidade.

E assim, embalada pela famosa música, da lendária banda de rock, sucesso de ontem, hoje e sempre (inclusive da época em que nós, ainda adolescentes, ingressávamos na universidade), relembro da minha turma de faculdade, décadas atrás, na mesma cena de calouros, e a imagem do colega, então surfista, se confunde com a daqueles meninos “pedintes” recém-saídos da adolescência.




E, ao mesmo tempo, me veio a lembrança recente (meses atrás) da imagem do colega, agora numa mesa de um bar no meu bairro, em Icaraí, tomando apenas um refrigerante (ele ia fazer exames no dia seguinte) enquanto eu e outro colega da turma sorvíamos uma cerveja gelada, ele temeroso com a possibilidade da recidiva da doença que já vinha combatendo há cerca de dois anos. 

O colega, agora ex-surfista (mas para nós sempre o eterno “Surfista”, para outros o famoso “Lamparão”), estava com boa aparência, assim não imaginei o desfecho fatídico atual, e como não mais o vi desde então, daí a minha estranha sensação de incredibilidade diante da notícia, apesar de já prevenida pela família quanto à possibilidade do óbito iminente. 

E me lembrei dele discursando orgulhoso sobre os filhos e sobre a querida esposa, e na época me pareceu um exagero o medo que o acometia, pois ele parecia bem, apesar da doença agressiva. E assim como o aplicativo do celular nos aproximou da turma da época da faculdade, também o mesmo whatsApp nos comunicava que tínhamos acabado de perder um dos nossos (já tinha acontecido com alguns outros colegas mas a tecnologia até então nos poupava dessas tristes notícias-relâmpago).

E como só o cinema e a boa música me acalentam nessas horas, deixo a dica do emotivo filme “Linhas cruzadas” (“Hanging up”, filmado em 2000) que conta a história de um pai idoso e rebelde, mas amado pelas filhas, que está prestes a morrer (papel vivido pelo ótimo ator Walter Matthau).

O filme contou com a participação das atrizes Meg Ryan, Diane Keaton e Lisa Kudrow como as filhas do personagem do veterano e excelente ator, e as três irmãs, que sempre se desentendiam e mal se relacionavam, se vêm no meio de um turbilhão de sentimentos e ressentimentos que precisam resolver, no meio da ameaça de morte do pai agora moribundo.

Este filme me tocou profundamente, pois foi o último filme do aclamado ator Walter Matthau (como a vida imita a arte e vice-versa, o venerado ator faleceu naquele mesmo ano do lançamento do filme). 




A morte do ator mexeu muito comigo, pois eu tinha acabado de ver este filme na época, e também pela lembrança da minha infância/adolescência de cinéfila pois cresci assistindo aos divertidos e emotivos filmes do ator, junto com o seu colega, o também ator Jack Lemmon (que também morreu logo a seguir em 2001). 

E para nosso consolo diante do inexorável e inevitável, deixo a tradução, na performance de um grupo de teatro, do belo poema After a while (Um dia, a gente aprende) de autoria da poeta americana Veronica Shoffstall (que tem sido veiculada, equivocadamente, na internet, como de autoria de William Shakespeare).



E deixo também a lembrança do famoso “discurso Sunscreem”, que se acreditava ser de um orador direcionado a uma turma de formandos, na verdade um ensaio de uma escritora (apenas foi escrita na forma de um discurso para chamar a atenção dos leitores) de uma coluna de um jornal de Chicago cujo título original era “Advice, like youth, probably just wasted on the young” (instigante, não?) e que acabou ficando famoso nas mãos do diretor australiano Baz Luhrmann (diretor do também ótimo “Moulin Rouge”).

Frases relevantes do tal “discurso”: “quanto mais você envelhece, tanto mais precisa das pessoas que conheceram você na juventude” e “entenda que amigos vão e vêm, mas que há um punhado deles preciosos que você tem que guardar com carinho”.




E a bela música-tema, deste último filme de Walther Matthau, “Once upon a time”, ficou marcada em mim para sempre (na performance da voz magnífica do bluesman Jay McShann), e toda vez que a ouço, me vem a lembrança do ator que povoou minhas inocentes tardes de menina cinéfila, e a morte quase simultânea dos dois lendários atores (Walter Matthau e Jack Lemmon) me comoveu tanto, mas tanto, como se eu tivesse perdido dois entes queridos muito próximos.

A vida nos prega peças, mas também nos ensina a enfrentar desafios, e temos que aprender que a morte não deve ser encarada como um fim, e sim pode ser o início de reencontros entre os que ficaram por aqui, e que devemos nos lembrar dos que se foram com carinho e com aceitação, pois a morte faz parte da vida. É o indecifrável ciclo da vida.

                            “Once upon a time
                             The world was sweeter than we knew
                             Everything was ours
                             How happy we were then
                             But somehow once upon a time
                             Never comes again”
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