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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O direito ao FODA-SE

O texto O direito ao foda-se”, que transcrevo abaixo, no final do meu texto, circula na internet, equivocadamente como de autoria do Millôr Fernandes. Apesar do texto audacioso lembrar muito a irreverência do escritor, em todas as biografias oficiais do Millôr não há relato de que tal texto seja de sua autoria.

Enfim, muito antes de conhecer esse texto, eu já tinha experimentado o poder de um palavrão, quando proferido na hora certa e principalmente quando bem direcionado. O meu apelido “adorável anarquista” vem um pouco dessa minha irreverência, que fui com muita honra “aperfeiçoando” com a idade.

A sensação de liberdade, de autoestima, de retomar as rédeas da minha vida e do incrível bem estar interior, que me acontece depois de eu mandar um “foda-se” (para alguém que, com certeza, implorou para que eu assim o fizesse) é indescritível. Eu rejuvenesço a cada dia após mandar um palavrão merecidamente para alguém que, em geral, implorou por tal.

Ou seja, eu costumo economizar no meu estoque de palavrão. Tem a hora certa para proferi-lo, e como diz o tal texto, o “foda-se” aumenta minha autoestima, “me torna uma pessoa melhor . “Reorganiza as coisas . “Me liberta (é exatamente o que diz o texto e como eu me sinto). 

“Tem coisas na vida que não tem preço. E essa é uma delas. Essa sensação indescritível (de liberdade total e irrestrita) experimentei quando mandei certo professor psicopata, na ocasião meu então chefe, tomar “no olho do cu”, e rotulei a assistente dele (típica 171) do palavrão (quase “carinhoso”) “motherfucker” (chique, não? rsrs). E para tanto, me preparei para tal, ou seja, me vesti a rigor (pois para xingar é preciso classe), e esbravejei imponente do alto dos meus sapatos de salto-agulha e da minha boca carnuda pintada de batom vermelho.

E saí dali, “vento batendo no rosto, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios” (como diz o texto) e fui direto denunciar os dois canalhas (o chefe e sua assistente) no conselho de ética do meu trabalho (que, como sempre, em nosso país moroso e corrompido, o processo se encontra parado, mas fiz minha parte pois não fui a única vítima dos tais motherfuckers). 
Ou seja, fundamental para se sair bem, a altura, quando da necessidade de proferir um xingamento, é estar bem vestido, principalmente se você for uma mulher (por conta do preconceito sexista) senão você vai ser rotulada de “barraqueira”, mas se você estiver a altura do xingamento que você proferir, você será creditada como “autêntica”, “original”, “corajosa”, se não, no máximo, “excêntrica” (não para o xingado, óbvio, mas os que se sentem também injustiçados, estes agradecerão e te aplaudirão, foi o que aconteceu comigo, pois saí ovacionada do recinto).

E hoje, quando tenho que me referir ao tal professorzinho de merda (obviamente, meu ex-chefe, thank God), eu o faço chamando-o de “motherfucker” e, mais importante ainda, intitulando-o de “PhD em porra nenhuma”, pois ele é o protótipo do chefe idiota, bravata e incompetente,
e assim denuncio “o justo escárnio contra descarados blefes” e “a justa denúncia pública de um canalha” (como diz o texto), e com isso mando um “aviso aos desavisados” para saberem, de antemão, com quem estão lidando (para não serem assediados moralmente como eu fui, por eu ter descoberto que se tratava de um imperito, um engodo, uma farsa).
Eis, enfim, o texto original O direito ao foda-se:

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos... “Prá caralho”, por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que “Prá caralho”? “Prá caralho” tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas “prá caralho”, o Sol é quente “prá caralho”, o universo é antigo “prá caralho”...

No mesmo gênero do Prá caralho”, mas, agora expressando a mais absoluta negação, está o famoso “Nem fodendo!”. O “não, não e não!” e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade, “não, absolutamente não!” o substituem. O “Nem fodendo” é irretorquível e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranquila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo “Presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!. O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa... 

Por sua vez, o “porra nenhuma!” atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um “é PhD porra nenhuma!... O “porra nenhuma”, como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um puta-que-pariu!”, ou seu correlato “pu-ta-que-o-pa-riu!”, falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante qualquer um “pu-ta-que-o-pa-riu!” dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso “vai tomar no cu!”? E sua maravilhosa e reforçadora derivação “vai tomar no olho do seu cu!”. Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: “Chega! Vai tomar no olho do seu cu!”.

Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua autoestima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: “Fodeu!”. E sua derivação mais avassaladora ainda: “Fodeu de vez!”. Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?

Sem contar que o nível de estresse de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de foda-se! que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do foda-se!O “foda-se” aumenta minha autoestima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta".
Não quer sair comigo? Então foda-se!. "Vai querer decidir essa merda sozinho(a)? Então foda-se!O direito ao “foda-se!” deveria estar assegurado na Constituição Federal.  Liberdade, igualdade, fraternidade e FODA-SE.

Em tempo: a dupla de “stand up” Leandro Hassum e Marcius Melhem já usaram parte desse texto num dos seus esquetes no palco (assista abaixo).



terça-feira, 19 de novembro de 2013

Amar e odiar intensamente

Perdi a conta de quantos já me rotularam como uma pessoa “intensa”, numa referência a “tudo que vivo, eu o faço intensamente”. Realmente, eu me jogo de cabeça em tudo que faço, e raramente admito derrota antes de tentar vencer a todo custo, e principalmente, tanto amo, como odeio, sempre intensamente, nunca, jamais superficialmente.

Vivo, amo, curto, assim como odeio e sofro sempre da mesma maneira, intensamente. Posso curtir tão intensamente um simples e modesto banho de chuveiro do mesmo jeito que curtiria um banho de imersão numa suíte presidencial de um hotel cinco ou seis estrelas. E expresso isso em palavras, sempre intensamente, por mais simples ou sofisticada que tenha sido a experiência.
E quando odeio (algo ou alguém), eu também o faço do mesmo jeito, sempre intensamente. E sempre de maneira explícita, ou seja, o dono da minha paixão, como do meu ódio, sempre será o primeiro a perceber esse turbilhão de sentimentos.

E uma das coisas mais chatas, que me irrita e que tem a ver com esse meu discurso de “amar e odiar intensamente”, é quando abro o Facebook (raramente o faço, só me obrigo a manter meu cadastro na rede porque é uma ferramenta dinâmica que tem uma grande utilidade de comunicação imediata e coletiva em grupos fechados) e me deparo, logo na página inicial, com a frase: “pessoas que talvez você conheça”.

“Pessoas que talvez você conheça” – com certeza, você já se deparou com essa frase acoplada ao lado do retrato da pessoa em questão. Será que a implicância é só minha, será que alguém compartilha comigo essa chatice?... Parece que não sou a única que se queixa desta e de muitas outras chatices do Facebook, como mostra o vídeo abaixo (e, no final do texto,  assista outros  “reclamantes”, como o roteirista norte-americano Julian Smith e outros).

“Pessoas que talvez você conheça”... taí uma ferramenta irritante que essas pentelhas redes sociais disponibilizam, para que você adicione alguém que faz parte do círculo social de algum amigo, mas que você não tem interesse algum em conhecer, muito menos de se tornar amigo.
E quando você menos espera, “tá lá o pedido de amizade” do então (quase) desconhecido (quando decidi entrar na rede, me prometi adicionar no máximo trinta pessoas, mas já dobrei essa lista e vivo fugindo dos inúmeros pedidos para “responder solicitação de amizade”) – na verdade, o(a) fulano(a) apenas quer você na lista para fazer número (como se ter muitos “amigos” no Facebook, fosse sinal de popularidade!).

Isso quando não é um chato de galocha ou, pior ainda, quando não é alguém do seu passado que te esnobou, e que agora “acha que você está por cima” e faz questão de “ser seu amigo”, ou no mínimo quer bisbilhotar a sua vida, mas você mesmo não quer ver o(a) fulano(a) nem pintado(a) de ouro.
Maldita hora que resolveram achar que uma máquina pode substituir o serviço de um ser humano; com certeza falta alma num robô, pois deveria constar o complemento fundamental, junto aos tais dizeres: “pessoas que talvez você conheça”,... e talvez você odeie”.

Concordo que entraríamos no campo da intimidade e privacidade, expondo os podres de cada um; mas fala a verdade, isso tudo é um saco, a gente quer se ver livre de certas figuras no nosso dia a dia, e de repente, no sossego do nosso lar, através da maquininha mequetrefe, a tal “persona non grata” invade nossa intimidade, se “oferecendo” para um futuro bate-papo amigo!!! É o fim da picada!!!

E lá está, na sua tela do monitor, o retratinho com o nome de uma das pessoas mais desprezíveis que você já conheceu na sua vida, em toda a face da Terra, que você passa o dia todo tentando evitar no trabalho, na rua,... e quando isso acontece, tenho ânsia de vômitos, e fecho essa merda de rede social para não mais ter que olhar para a foto do(a) “motherfucker”...

Mas, aí fico a me perguntar, por que cargas d’água aquele meu amigo teve coragem de se relacionar com o(a) tal? Tem gente que adiciona qualquer um na sua “lista de amigos” e, sem saber, adiciona o(a) tal desprezível “motherfucker”. E agora a maquininha (desprovida de sentimentos, discernimento e de crítica), acha que você vai querer também adicionar o(a) “motherfucker” a sua lista de amigos...
E então, para não ter que me deparar com “personas non gratas”, eu desapareço por um tempo deste universo de futilidades que são essas redes sociais, até que alguém me mande algo relevante por esse meio, e sem outra opção eu volto, com muita má vontade, a acionar o site e volto a checar minha conta e eventuais recados que possam me interessar.

Por isso, sou tão explícita nos meus relacionamentos, quaisquer que sejam eles (amorosos, familiares, de amizade, de trabalho, etc). Não deixo dúvidas, para evitar constrangimentos, todos sabem quem eu amo e quem eu odeio (mas não me martirizo com ódios e rancores, eu apenas excluo o indivíduo das minhas relações, tornando-o invisível para mim, é como se o sujeito não mais existisse para mim, mas eis que a maquininha...).
Por exemplo, um colega de trabalho, hoje ex-amigo, algum tempo atrás, tentou um retorno da nossa antiga amizade, me interpelando ao vivo no trabalho, ao que eu respondi secamente: “a vida é feita de escolhas, você escolheu agir como um legítimo babaca em relação a mim, e em troca eu escolhi nunca mais olhar para sua cara escrota”, e virei as costas e nunca mais olhei para a cara do "asshole", ou seja, ele se tornou invisível para mim socialmente (como sou profissional, só falo com ele assuntos exclusivamente de trabalho, isso quando não me é possível delegar tal função a outrem).

Algumas pessoas hão de achar que eu vivo me corroendo “em ódio e rancor” (as que não me conhecem como "adorável anarquista"), mas é diferente quando o “motherfucker” é imperito, mau caráter ou antiético, aí não há como não denunciar, e as pessoas às vezes acham que eu nutro ódio pelo sujeitinho, mas nesses casos é uma questão de princípios, de não ser conivente com imperícia, mau caratismo e falta de ética, daí minha denúncia constante que, muitas vezes, é mal interpretada por muitos como “simples ódio e rancor inconsequente”.
Mas o objetivo de ser tão explícita nas minhas relações, é que assim evito receber indevidos “convites de amizade” (ao vivo ou virtualmente) dessas “personas non gratas” (o tal motherfucker e o tal asshole, com certeza, jamais me mandarão tais convites), mas nem sempre isso é possível, pois a tal maquininha não sabe desses “pequenos” detalhes sórdidos, porque, vira e mexe, me deparo, com os retratinhos do “tal motherfucker e do tal asshole” na lateral da minha “página inicial” do Facebook, em “pessoas que talvez você conheça” (aff... quero vomitar) e, de vez em quando, ainda recebo alguns desses inconvenientes convites.  

Muitos dirão que o tal recurso ajuda a encontrar amigos, etc. Ok, tá bom. Vá lá. Mas a tal ferramenta poderia vir oculta, e assim só seria acessada por quem quisesse procurar por "pessoas que talvez você conheça", e não vir exposta na minha página principal com a foto do "motherfucker e do asshole" a olharem sorridentes para mim!!! Que porre!!!

Assim, quanto à inevitável ferramenta, já que não dá para bloquear essas “sugestões de amizade” da minha página inicial (já tentei fazer isso e já me informei que não é possível) de algumas dessas “personas non gratas” (algumas delas “prá lá de asshole e motherfucker”), poderia então haver uma dica, mais ou menos assim: “pessoas que talvez você conheça,... e talvez você odeie”, e junto aos tais dizeres, o detalhe mais importante, a frase deveria vir acrescida de um “não me add, please”. Tenho dito.




sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Remakes hollywoodianos de fimes europeus

Não é de hoje que Hollywood faz remakes de filmes europeus. E é sempre muito interessante a abordagem de um mesmo filme pelo cinema americano e pelo europeu.

Um mesmo filme, pela visão do europeu, é abordado de maneira muito mais intimista, muito mais existencialista (provocando reflexões próprias em cada espectador), enquanto o cinema americano investe na ação e nos efeitos visuais, abordando muito de longe os sentimentos e as emoções (quando o fazem é, muitas vezes, de maneira quase apelativa, visando arrancar “lágrimas até de crocodilo”). Óbvio que não é uma regra, há muitas exceções (afinal, a indústria cinematográfica, principalmente a estadunidense, tem uma produção imensa).

As películas européias têm, em geral, tomadas longas, cercadas de sutilezas (as pessoas com pouca sensibilidade costumam achar esses filmes chatos e maçantes), dando tempo ao espectador para que pense (e repense) no que está a assistir, e assim tire suas próprias conclusões (e isso é fundamental, principalmente nos dias de hoje, quando se trata de temas polêmicos, sejam eles socioculturais, sexuais ou religiosos).

Já as versões americanas são sempre mais explícitas e rápidas, e dão o desfecho final que convém ao diretor e ao estúdio em si, sem dar tempo ao espectador de ter sua própria opinião sobre o tema abordado (para quem não tem muita “massa cinzenta” para gastar, é um “prato cheio”, muita ação e pouco conteúdo).

Os questionamentos sobre essa onda de remakes são inúmeros. Falta inspiração e criatividade em Hollywood? Uns alegam necessidade de “renovação”, aproveitando os novos avanços tecnológicos, porque “as novas gerações não estariam dispostas a assistir filmes antigos”, com poucos recursos em matéria de efeitos especiais, etc.

Pode ser, mas no caso dos filmes da trilogia “Millenium” (baseada no livro do jornalista sueco Stieg Larsson, que escreveu uma saga sobre violência sexual contra mulheres, em três volumes), a película original intitulada “Os homens que não amavam as mulheres”, de nacionalidade sueca, foi filmada em 2009, e apesar do sucesso internacional de crítica e de público, logo a seguir (apenas dois anos depois) veio o filme americano intitulado “The Girl with the Dragon Tatoo”.

O que eu posso concluir disso é que, apesar de todo o sucesso internacional do filme sueco, o espectador americano deve ter um QI médio “prá lá de rasante” e não consegue assimilar imagem e legenda ao mesmo tempo (eles mal sabem soletrar uma palavra no seu próprio idioma), ou seja, o “Tico Teco” do espectador estadunidense não funciona, daí a necessidade do filme na sua língua pátria (ai, que maldade a minha).

Aqui cabe a velha charada: qual o nome que se dá àquele que domina vários idiomas? Poliglota. E dois idiomas? Bilíngue. E o que só domina um idioma? A resposta certa é...americano (ai, de novo, que maldade!!)

O autor da tal trilogia partiu de uma história real, o estupro coletivo de uma jovem que ele presenciou quando tinha 15 anos de idade, e o livro foi uma espécie de redenção (e homenagem à menina) pois ele se arrependia amargamente por não ter tido coragem de ajudar a jovem, que se chamava Lisbeth, nome que manteve na ficção (cercada de mistério, dramaticidade e violência, e não poupou nas denúncias de misoginia, incesto e abuso sexual contra mulheres).

A dura missão de adaptar o então famoso filme sueco ficou a cargo do cineasta David Fincher (também diretor dos premiados “O curioso caso de Benjamin Burton”, “A rede social”, “Clube da luta” e “Seven”), que não fez feio, apenas usou uma visão, digamos, mais requintada (o que a grana não faz por um filme!!!), e apelou para a fama do Daniel “James Bond” Craig no papel principal, apostando também numa abertura bem “hollywoodiana”, repleta de efeitos especiais, com a famosa música “Immigrant song” do Led Zepellin (abaixo).


Eu, particularmente, prefiro o filme original sueco, mais misterioso e mais profundo, com uma aura de mistério num cenário gélido e mais sombrio que a versão americana (quando foi lançada, eu já tinha visto a versão sueca, e a escolha do Daniel Craig não me deixou desvencilhar do personagem do agente 007).

Gostei mais da atuação dos (praticamente) desconhecidos atores suecos (e quando a versão americana foi lançada, o mistério já não existia para mim, não li o livro, mas quem leu, garante fidelidade ao texto), e também porque as sequências Millenium II (“A menina que brincava com fogo”) e Millenium III (“A rainha do castelo de ar”) ainda só existem na versão européia, e tão misterioso e emocionante quanto o primeiro, só dá para acompanhar o suspense, conhecendo-se os atores que interpretaram os papéis no Millenium I sueco.

O mesmo aconteceu com outro recente sucesso sueco, o filme sobre vampiros filmado em 2008, “Deixe ela entrar”, ou seja, também logo depois surgiu a versão americana “Deixe-me entrar”, em 2010.

Enquanto o filme sueco usa a história de jovens vampiros como pano de fundo para mostrar o drama de dois pré-adolescentes desajustados socialmente, com uma visão sombria e bem mais “dark” (por focar muito mais o “bullying” social, que aprisiona e isola os personagens com seus traumas, do que o vampirismo em si), já na versão estadunidense a mesma história soa mais como um filme de gênero, voltado para o terror vampiresco, privilegiando o horror explícito, intercalando com um toque romanesco do jovem casal (é quase um “Crepúsculo” pré-adolescente), e como sempre investindo em muitos efeitos especiais, de maquiagem principalmente.

Já o filme do diretor alemão Win Wenders (dos também excelentes “Paris, Texas” e “Buena Vista Social Club”), intitulado “O céu sobre Berlim” (no Brasil, “Asas do desejo”), da década de 80, ganhou uma continuação (no Brasil, “Tão perto e tão longe”) do mesmo diretor e um remake americano melodramático (intitulado “Cidade dos anjos”), no final da década de 90.

No primeiro original alemão, anjos velam pelas almas perdidas, levando lampejos de esperança, numa Berlim gélida e totalmente devastada pelos efeitos do Holocausto e ainda sob o Muro de Berlim, e um deles quer adquirir a forma humana para viver (e sentir de verdade) a paixão por uma mortal trapezista. O mundo eterno dos anjos é sombrio e em preto e branco (pois a ausência de cores revelaria, segundo o diretor, a essência da alma), e o mundo mortal ganha cores, na visão de Wenders.

“Asas do desejo” é um filme poético, encantador, repleto de dor e angústia tanto dos humanos quanto dos anjos, que vai desenrolando lânguido e profundo, num ritmo lento, cadenciado e embalado pela poesia do alemão Rainer Maria Rilke, o grande “poeta dos anjos”. 

A continuação alemã (em inglês, “Far away, so close”) conta com a participação do músico Lou Reed (que acaba de falecer) no papel dele mesmo (que assina grande parte da trilha sonora do filme), e mantém o ator americano Peter Falk (da famosa série policial “Columbo”, dos anos 70) também como ele mesmo (como no primeiro filme), e tem como novidade a atriz Natasha Kinski no papel principal feminino. A música do U2 "Stay: far away, so close" foi a que mais ficou conhecida no filme.


Já na versão melodramática americana, que investe mais no romance “água com açúcar” e na trilha sonora, é o “anjo” Nicholas Cage que quer perder sua condição de imortalidade para sentir as dores e as alegrias humanas, ao lado da “cirurgiã” Meg Ryan, ao som de “Iris” de Go go Dolls, de “If God will send his angels” do U2, de “Uninvited” de Alanis Morissete, entre outras belas músicas (vídeos abaixo e no final do texto).


Recentemente teve uma onda hollywoodiana de remakes de filmes do gênero terror – originalmente de nacionalidade japonesa, tanto “O grito” (da série japonesa “Ju-On”), como também “O chamado” (original “Ringu”) e também o filme “Água negra” foram adaptados para o cinema americano (o último sob a direção do nosso Walter Salles com a Jennifer Connely como protagonista), enquanto “Quarentena" de 2009 é um remake de um filme de terror espanhol intitulado “REC”, de 2007 (que ganhou duas continuações e virou videogame, e foi sucesso de público e de crítica, o que não aconteceu com a versão americana).

O espanhol “Abre los ojos”, do diretor Alejandro Amenábar, de 1997 (no Brasil, “Preso na escuridão”) foi adaptado para o idioma inglês como “Vanilla Sky” (em 2001) e dirigido por Cameron Crowe (de “Quase famosos”, “Elizabethtown” e “Jerry Maguire”) que manteve Penélope Cruz do elenco original, mas incluiu Tom Cruise e Cameron Diaz, no papel dos outros dois principais protagonistas.

A história é a mesma, mas no filme espanhol a interpretação final que se tem soa mais como uma loucura do personagem principal; já no filme estadunidense foca mais como se fosse uma conspiração, em torno de uma ficção científica. Mas, na verdade, nos dois, cabem várias interpretações, e essa é a grande jogada dessa história, dá prá ficar horas discutindo sobre ela (sobre realidade e fantasia, vida e morte, sonho e pesadelo, lucidez e loucura).

E a lista de remakes europeus  não pára: o francês “A gaiola das loucas”, o russo “Solaris”, o francês “Nikita” de Luc Besson (intitulado “The assassin” na versão americana, com Bridget Fonda e Gabriel Byrne) entre os mais populares.

O que se conclui no final é que, apesar de não ser uma regra, o cinema estadunidense, em geral, é despretensioso, e os diretores atendem aos apelos dos estúdios (em matéria de “blockbusters hollywoodianos”) e do espectador americano (trilha sonora e muitos efeitos especiais, mas pouca reflexão) enquanto o europeu investe em cenas repletas de nuances e sutilezas que acabam surtindo mais efeito do que as cenas explícitas do cinema americano. 






















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