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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O dia do homofóbico enrustido

Só faltava essa!!! Quanto mais eu vivo, mais embasbacada eu fico com o homo-sapiens, que aparentemente deveria ser capaz de exercer o direito do livre arbítrio. 

Dois anos atrás, os nossos “honoráveis” políticos tentaram aprovar o ridículo “Dia do Orgulho Hétero”. Agora é a cura gay”. E mais, indiretamente querem proibir o homossexual de frequentar igrejas e templos sagrados. 

Como “adorável anarquista fico envergonhada diante de tanto retrocesso. Como heterossexual, me sinto constrangida por pertencer a essa maioria retrógrada, mas como mulher e feminista, me sinto parte dessa minoria perseguida e massacrada. É muita falta do que fazer desses políticos, com tantas leis importantes para serem aprovadas e ficam perdendo tempo com tanta babaquice!!! Parece mais que querem aprovar “O Dia do homofóbico enrustido”. 

Num Estado laico como é o Brasil (pelo menos, assim o é no papel), qualquer projeto de lei que envolva (pre)conceitos religiosos (e a homossexualidade, infelizmente, é um deles) deveria ser abortado. 

Já está documentado que, ao optar pela homossexualidade, um indivíduo perde pelo menos trinta direitos civis, o que não é justo, pois o Estado deveria garantir direitos iguais para todo e qualquer cidadão, qualquer que seja a sua escolha sexual. Sendo um indivíduo cumpridor de seus deveres civis, o homossexual deveria também ter todos os direitos civis garantidos pelo Estado. 

Ora, os gays não estão nem aí para os héteros e suas leis ridículas”. E, para provar isso, os LGBTTTs inauguraram uma igreja gay na capital paulista, extensão de uma entidade religiosa daqui do Rio de Janeiro. 

O “Dia do Orgulho Gay” só foi criado em protesto contra agressões gratuitas a homossexuais e afins, pois eles apenas querem ter o direito de andar na rua sem receio de ofensas e sem medo de serem espancados ou assassinados, apenas porque fizeram opções sexuais diferentes de uma maioria.

Esses projetos de lei apenas expõem o grau de retrocesso democrático da sociedade brasileira. Enquanto outros países evoluem, criando o dia internacional contra homofobia” (comemorado no dia 17 de maio), a sociedade brasileira se mostra cada vez mais retrógrada e, pior, enrustida, pois fingimos que temos a mente aberta”, e que não existe preconceito no Brasil contra negros, mulheres e homossexuais.

Até a Suprema Corte Americana, no retrógrado e machista estado do Texas, no início do ano 2000, se dobrou diante do caso Lawrence contra o Texas, admitindo que o Estado não pode invadir a intimidade e a privacidade de um cidadão  a partir de uma denúncia anônima, a polícia texana invadiu a casa do tal Lawrence, que foi preso em “flagrante” em sua própria casa junto com o seu parceiro de cama, sob alegação de atentado contra a moral e os bons costumes do Texas (no final do texto, vídeo sobre o caso e o julgamento)E um dos argumentos levantados pela defesa americana foi a comprovação científica de que a homossexualidade é quase universal em todo o reino animal. 

A revista “Superinteressante já publicou, mais de uma vez, sobre esses estudos em animais irracionais, e o que é peculiar é que foi demonstrado que também há homofobia no reino animal, que os veados-de-rabo-branco (logo quem!!!) héteros costumam atacar os que são homossexuais. Hilário, não? Pois, se transportarmos isso para o nosso mundinho, será que é esse o medo dos homo-sapiens homofóbicos, ou seja, são também viados-doidos-prá-dar-o-rabo? (só resta zoar da cara desses enrustidos).

Quem não se enquadra no contexto da maioria dominadora, tem que ser curadoAgora só falta inventarem alvejante para curar a negritude dos afrodescendentes!!! (detalhe, não esquecendo de usar esse ridículo termo politicamente correto, no caso da raça negra. Haja hipocrisia!!!).  

No passado, tentavam “curar” os canhotos, obrigando-os a tornarem-se destros, amarrando a mão dos pobres coitados atrás das costas; nós mulheres já fomos consideradas bruxas e queimadas vivas em praça pública na Inquisição (era a única cura” para quem não se enquadrava no contexto social da época)

Até os gagos também tiveram sua vez de “cura” na marra, era paulada na cabeça, susto, tudo para que fossem iguais a uma maioria, como conta o martírio que passou na adolescência um político gago (abaixo) na hilária entrevista no programa do Jô Soares.

A criação de um dia especial, para celebrar algo, tem a ver com a necessidade de se fazer lembrar datas marcantes e históricas que mudaram um cenário sócio, político ou econômico de uma sociedade, eis assim a justificativa da comemoração do dia do descobrimento e independência de um país, da abolição da escravatura e outros.

A instituição de um dia no calendário oficial de um país serve também como um alerta para quem é marginalizado socialmente, e significa criar visibilidade social contra injustiças e abusos contra minorias; esses dias marcam lutas pela igualdade social, numa sociedade machista, homofóbica e racista. 

Assim criou-se o “Dia da Mulher”, o “Dia da Consciência negra”, o “Dia do Orgulho gay”, o dia da “Marcha das vadias” (no final do texto,*link para detalhes sobre esse dia) porque mulheres, negros e gays são estigmatizados e trancafiados em guetos, cercados pela intolerância do homem-branco-hétero-machista (que nunca teve que lutar pelos seus direitos, nunca sofreu preconceitos e nem precisa se reafirmar diante da sociedade).

O “Dia do homem” (comemorado no Brasil no dia 15 de julho) foi criado visando incentivar campanhas de saúde masculinas tais como prevenção do câncer de próstata, assim como o “Outubro rosa” foi criado para promover campanhas maciças sobre câncer de mama e visando melhorar a autoestima das mulheres mastectomizadas.

A sociedade hétero-normativa enxerga a diversidade sexual como uma praga e usa conceitos religiosos arcaicos (que só geram preconceitos e intolerâncias) como argumento para justificar a homofobia, e ao que parece a criação do tal dia serviria para promover ainda mais o machismo, sob o ridículo pretexto de estarem fazendo “atos inerentes à heterossexualidade”, mas na verdade soa como reafirmação do orgulho de serem machistas e homofóbicos.

E como “tudo a minha volta me leva ao mundo do cinema”, me veio à lembrança o sensível e emotivo filme “Filadélfia” (com Tom Hanks e Denzel Washington) que põe o dedo na ferida, expondo a homofobia e o preconceito à diversidade sexual nas relações trabalhistas. E a bela música Streets of Philadelphia” de Bruce Springsteen (vídeo abaixo) acompanha o martírio do personagem homossexual e aidético.


E a soberania xenofóbica da chamada raça pura ariana, que levou às atrocidades do Holocausto e visava criar uma sociedade de indivíduos héteros de pele branca e olhos claros, é mostrada no suspense dramático “Os meninos do Brasil (com os veteranos atores Gregory Peck e Laurence Olivier). 

Como sempre a ficção antecede a ciência, no caso, a inseminação artificial e a clonagem, pois esse filme é do final da década de 70, antes da real criação desses dois avanços científicos, e deixa como desfecho final uma luz de esperança no fim do túnel” para a humanidade, fazendo-nos crer que nem tudo está perdido, que o ser humano ainda pode ser capaz de expressar sentimentos de alteridade e tolerância diante das diversidades inerentes à nossa espécie (trailer do filme no final do texto). 

A desculpa fajuta do vereador criador do tal projeto do Dia do orgulho hétero” (a lei não passou em 2011, mas do jeito que a coisa anda retrógrada, vão acabar voltando à carga para aprovação) é que estaria havendo uma “ditadura gay”, alegando que há “excesso de privilégios” para a comunidade homossexual “em detrimento da maioria heterossexual”, e que a comunidade gay é “chegada a bizarrices e excessos”, e a lei viria assim “em defesa do bom senso, dos bons costumes e da família”.

Mas..., e as bizarrices de programas héteros como “Big Brother”, e as mulheres praticamente nuas no carnaval, e a “dancinha da garrafa”, e a pornográfica dança funk (que mais parece cachorros no cio”), e a extravagância e a baixaria das mulheres-frutas (a transexual Roberta Close e o travesti Rogéria têm muito mais classe que elas) não são alguns exemplos de “bizarrices e atentados ao pudor do mundo hétero? 

É preconceituoso rotular todo e qualquer homossexual como extravagante e/ou promíscuo. Seria o mesmo que dizer que toda mulher de biquíni na praia é vagabunda ou periguete. No passado, mostrar o tornozelo já foi coisa de vagabunda”. Ou seja, os conceitos de atentado ao pudor mudam de acordo com a conveniência (e a conivência) da sociedade hétero-normativa, então está mais que na hora de evoluirmos e acabarmos com essas hipocrisias e pre(conceitos).

E não se deve confundir homossexualismo consentido entre adultos com pederastia, que é um crime sexual não consentido com menores do mesmo sexo (assim como é crime a pedofilia, que é praticada por héteros com menores do sexo oposto). Nesses casos, o que está em jogo não é a escolha sexual, mas sim a falha de caráter desses indivíduos (no caso dos pederastas homossexuais e dos pedófilos heterossexuais que se igualam em matéria de mau caratismo) ao coagir crianças indefesas a praticarem sexo não consentido. 

E leva a mal não, mas o macho heterossexual é muito mais chegado a promiscuidade, como um comportamento “normal”, se envolvendo frequentemente com prostituição, inclusive a homossexual, desde que muito bem camuflado (Ronaldo Fenômeno tá aí para comprovar), e o vídeo abaixo mostra essa realidade de uma maneira bem cômica. 


Este diferencial (entre escolha sexual e caráter) é mostrado de uma maneira bem divertida pelo grupo de comediantes de “stand up” do projeto humorístico paulista “Terça insana”, que vai na contramão do preconceito contra os homossexuais, na performance do humorista Marcelo Mansfield, na pele de um dos seus personagens, o mal-humorado “Seu Lili“, no esquete “Eu fico puto”, em que o comediante enfoca, de maneira hilária, que o que importa é o caráter e a competência de um indivíduo, independente de sua orientação sexual, repetindo o bordão “prefiro ter um filho viado” toda vez que ele se depara com um indivíduo sem caráter e/ou incompetente” (abaixo).

E se formos a fundo nesse contexto de sexualidade, descobriremos que a heterossexualidade foi um conceito criado cultural e historicamente, como mostra o historiador americano Jonathan Ned katz, no livro “A invenção da heterossexualidade”, que também analisa a quem interessa manter essa imposição que classifica a heterossexualidade como normal e bom e, ao contrário, a homossexualidade como anormal e ruim. 

Como mulher e feminista fico indignada, pois tais conceitos me fazem lembrar do preconceituoso princípio de Pitágoras, de 500 a.C., que estigmatizou a mulher até os dias de hoje: “Há um princípio bom que criou a ordem, a luz e o homem, e um princípio mau que criou o caos, as trevas e a mulher” (no final do texto, link* para o texto Mulheres são 100% bruxas?”).

E se, por um mero acaso, alguns héteros são perseguidos, eles o são pelas suas opiniões polêmicas, preconceituosas e machistas, e não por sua orientação sexual. E o tal vereador brasileiro, que queria aprovar o tal dia do orgulho hétero, ridiculamente reivindicava o “direito de xingar” um indivíduo na rua, sem ser rotulado de “homofóbico” se, por acaso, o fulano fosse um homossexual.

Só que o “ilustríssimo” vereador parece não perceber a carga de preconceito que vai junto quando se xinga um negro de “preto fedido”, ou diante de uma cantada vulgar na rua direcionada para nós mulheres, pois temos que seguir caladas e de cabeça baixa (porque ai de nós, mulheres, se nos queixarmos publicamente na hora, pois seremos xingadas de “histéricas e mal-amadas”, ou seremos crucificadas como piranhas e vagabundas fazendo cú doce). Pois foi assim que o mundinho hétero machista nos ensinou. E alguns héteros reclamam de serem abordados sexualmente por gays (é bom para eles sentirem na pele o que nós, mulheres, sentimos com a abordagem grosseira e de baixo nível de alguns machos héteros).

O peso de um xingamento é muito diferente se resolvermos xingar um hétero branco na rua, pois raramente ele será chamado de “viado, mulherzinha, bicha, piranha ou preto fedido”, no máximo será xingado de “branquelo”, ou seja, um xingamento sem nenhuma carga de humilhação.

E mais ridículo ainda em toda essa história é que essas leis partem da chamada Comissão de direitos humanos” (entre aspas, porque essa tal comissão, pelo visto, só defende os direitos do homem-branco-hétero-machista) e é gritante a conivência dos parlamentares nesses projetos esdrúxulos, mostrando o desrespeito à laicidade do Estado que, como no julgamento de Lawrence contra o Texas, não deveria tomar partido em assuntos que têm como base a referência de argumentos arcaicos religiosos erguidos contra homossexuais, o que só incentiva a violência gratuita contra minorias no Brasil (veja, no final do texto, no programa CQC, estatística sobre violência gratuita contra homossexuais).

Assim, qual a verdadeira justificativa para o ridículo “Dia do orgulho hétero”? Estão com inveja da “Parada gay”? Querem também um dia exclusivo para desfilarem na avenida? Só levando na sacanagem, porque mais ridículo que isso é impossível. 

A passeata gay “perturba” o trânsito uma única vez no ano, enquanto a torcida machista flamenguista, com o time ganhando ou perdendo, enche o saco da gente todo o fim de semana (pelo menos agora, temos “as meninas” alegres da torcida “Fla gay” dando um toque divertido ao time).

Os héteros estão sendo assassinados pela escolha sexual deles? Que eu saiba, não. Os héteros estão sofrendo humilhação nas escolas ou no trabalho pela sua orientação sexual? É óbvio que não.

Então, de que têm medo esses tais héteros? Os héteros são maioria no mundo, então por que tanta paranoia? A heterossexualidade não está ameaçada de extinção. Os defensores do tal dia alegam que os homossexuais exigem direitos demais” e que têm comportamentos esdrúxulos”. 

E ninguém questiona o comportamento dos héteros??? Os héteros têm medo de perderem o direito de escarrar no meio da rua? De perderem o direito de “limpar o salão” na rua, com o dedão indicador quase perfurando a narina, e depois nos cumprimentar com um aperto de mão todo melequento? De não mais poder coçar o saco em plena praça pública e de mijar fora do vaso? 

Quer comportamentos mais bizarros e esdrúxulos que esses??? O machismo de séculos nos fez acreditar que esses são comportamentos normais do homo-sapiens do gênero masculino. E, leva a mal não, mas para manter esses direitos, não é preciso ser hétero, basta ser porco. 

E, para fechar esse texto com chave de ouro, deixo o vídeo com os ótimos atores comediantes Pedro Cardoso e Luís Fernando Guimarães com o esquete do “milagre da (quase) cura gay” e o emotivo vídeo irlandês contra o bullying homofóbico. E os “Mamonas assassinas” (abaixo) bem que tentaram acabar com o preconceito com o famoso “Robocop gay” (“abra sua mente, gay também é gente”).

*link para detalhes sobre o dia da Marcha das vadias
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2012/10/virgindade-machismo-e-marcha-das-vadias.html
*link para para o texto “Mulheres são 100% bruxas?
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2009/11/mulheres-sao-100-bruxas.html








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