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domingo, 14 de julho de 2013

O povo decide: "Si o no", eis a questão

Anunciada greve geral para o dia 11 de julho. E o Brasil parou de norte a sul por uma semana inteira. A “anarquia” estava por todo o canto. Não, isso não é uma ficção. Isso realmente aconteceu, mas não agora em 2013.

O ano era 1917, no início do século passado. Foi considerada a primeira grande greve geral do Brasil, e foi detonada por influência dos anarquistas imigrantes europeus que vieram para o nosso país, no início do século, em busca de um futuro melhor, fugidos da carestia que se instalou por toda a Europa com a primeira grande guerra mundial (crise socioeconômica que acabou se refletindo também no Brasil).

O Brasil encontrava-se estagnado, mergulhado em uma penúria extrema que, sob a influência da filosofia anarquista (incentivada pelos inúmeros conflitos internacionais, como o motim dos soldados franceses e a Revolução Russa já em curso), levou a uma revolta da população proletária contra a exploração pelo empresariado nas fábricas, e as manifestações tumultuadas do povo pelas avenidas paulistas geraram sérios conflitos, que acabaram culminando na morte de um operário por um policial no embate nas ruas. 

Os protestos que tomaram conta das ruas levaram à errônea e equivocada interpretação (que persiste até os dias de hoje), pela classe dominante e reacionária da época, de que "anarquista é baderneiro", "anarquista não respeita leis", "anarquista prega a desordem generalizada".

O anarquismo era uma ideologia socialista que defendia idéias de extinção da propriedade e também do Estado (qualquer que fosse ele, de direita ou de esquerda), visava extinguir as leis, mas não a ordem, seria uma nova ordem social em que o homem respeitaria o seu próximo sem a necessidade de leis para tal intento. Nos dias de hoje o movimento anarquista é visto como uma utopia, pois sabe-se que o ser humano é falho, egoísta e ambicioso, e o poder em geral corrompe.

A morte do tal operário no ano de 1917 foi o estopim para a revolta de toda a população, disseminando em todo o país um sentimento de indignação e repulsa ao “status quo” da época, e o Brasil literalmente parou por uma semana inteira, cruzando os braços bancários, comerciários e comerciantes, estudantes e professores, repartições públicas, cartórios, inclusive casas de shows e teatros, em praticamente todos os estados brasileiros (veja, no final do texto, documentário sobre a famosa greve). 

“Anarquistas, graças a Deus” é o título do livro da escritora Zélia Gattai, sobre a história da sua família de imigrantes italianos no início do século 20, tendo como pano de fundo as mudanças sociais e políticas da época, e a influência do anarquismo na sua vida e no país (no final do texto, o livro na versão falada, e abaixo trailer da minissérie baseada no livro).



Os sindicatos atuais convocaram a greve geral, agora em 2013, para a mesma data de 11 de julho (foi o dia do cortejo fúnebre do tal operário, carregado pelo povo revoltado, pelas ruas paulistas no ano de 1917) como "O dia nacional de luta", tentando reproduzir a mesma comoção da época, aproveitando o clamor das ruas dos últimos meses. 

Mas, enfim, o povo acordou. Depois de mais de vinte anos, os políticos continuaram corruptos desde o impeachment do Collor, e o povo anestesiado passou pela roubalheira do governo Sarney, pelo "mensalão" que já rolava desde a reeleição de FHC, e só agora "caiu a ficha" no governo Lula/Dilma.

E, como "adorável anarquista e cinéfila", eu não podia deixar de fora a sétima arte, que logo me vem à mente sempre que me deparo com temas polêmicos, como agora no caso atual, sobre a proposta do plebiscito sobre a tão necessária e urgente reforma política - assim, deixo a dica do filme chileno intitulado “No”, que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2013 (mas quem levou a estatueta foi o belo e comovente filme austríaco intitulado "Amour").

O filme "No" conta a história real do plebiscito, que aconteceu nos anos 80 no Chile, quanto à continuidade ou não (“Sí o No”, daí o título “No”) do governo autoritário do ditador militar de direita, o fascista Augusto Pinochet (que, a contragosto, se viu obrigado, por pressões internacionais, a convocar um referendo popular para decidir sobre seu mandato, que já se prolongava por quase duas décadas, após o golpe militar que depôs o presidente eleito pelo voto popular, o socialista Salvador Allende).

Um detalhe de "No"(trailer no final do texto): o diretor usa a "qualidade" das películas da época, ou seja, dos anos 80, para retratar uma verdadeira “volta no tempo”, e essa é uma das graças do filme, ou seja, nos transportar para aquela época em todos os sentidos, portanto não espere a nitidez das imagens e efeitos especiais dos filmes hollywoodianos dos dias de hoje. 

E fica aqui a dica, pois o filme mostra como a grande jogada de marketing pode ser a diferença (para o bem ou para o mal) para convencer (e às vezes ludibriar) o público na hora de votar um plebiscito. 

No caso do Chile, a esperta propaganda do "No" virou o jogo a favor do povo, mas não foi o que aconteceu no Brasil em 2005, com o polêmico referendo sobre a proibição do comércio de armas de fogo e munições no Brasil, que visava o desarmamento da população civil, quando o "sim" inicial virou "não" na reta final, ou seja, diferente do Chile, o pesado marketing do "não" fez o medo vencer no Brasil (veja abaixo, trailer do documentário “Referendo”, de Jaime Lerner).


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