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terça-feira, 23 de abril de 2013

América Latina: ...e lá se vão mais "cem anos de solidão"

Tenho andado bem "internacional".  Ou seja, ultimamente tenho feito amizades frequentes com estrangeiros que, com certeza, enriquece-nos muito culturalmente.

Uma amizade recente é uma estudante austríaca, residente nos arredores de Viena, que conheci fazendo intercâmbio em medicina no Brasil.

Outra nova amizade é uma ucraniana radicada na América que veio visitar uma amiga americana que reside há dois anos no Brasil (que, por acaso, é a minha outra amizade estrangeira e minha professora particular de inglês). Conversando com a ucraniana (em inglês, óbvio, não falo russo, nem ela português), aproveitei para "apresentar" a ela a nossa escritora brasileira Clarice Lispector, também nascida ucraniana.

A minha nova amiga já voltou para a América e, assim como o mais recente escritor biógrafo da Clarice o norte americano Benjamim Moser, ela também ficou fascinada pela nossa poeta nascida ucraniana, e agora está estudando português para decifrar a poesia da nossa indecifrável Clarice (*quem quiser detalhes sobre o autor e a biografia de Clarice Lispector, acesse link no final do texto). 

A amizade sempre flui fácil com os norte-americanos e com os europeus (e até com asiáticos e africanos) que vêm ao Brasil. Mas, e quanto aos latinos de idioma espanhol? O que acontece? Quando comento sobre os novos amigos europeus e norte americanos, as expressões são do tipo “legal", "cool", "maneiro”, mas quando falo da amizade com os hermanos latinos, as caras são muitas vezes de muxoxo, de desdém, e ainda ganho conselhos de alguns (principalmente das mulheres) para “tomar cuidado com os machos latinos”. Por que, diabos, esse preconceito?

Como brasileiros, apesar de sermos considerados “cucarachas” por grande parte dos norte-americanos (e também por muitos europeus), temos a pretensão de nos acharmos melhor que os demais latinos, e tendemos a rotulá-los (os demais latinos) como "inferiores", incultos, até mesmo traficantes ou membros das FARCs (ou indiretamente envolvidos com), ou então, simplesmente “galinhas” que não merecem créditos.

Pois minha mais nova amizade internacional é um latino americano, mais especificamente um colombiano. E num papo bem “portunhol” dos dois lados, ele reclama (e ele não é o primeiro latino que conheci com a mesma reclamação) dessa visão equivocada que nutrimos, mutuamente, entre nós, latinos.

A verdade é que, a maioria dos estrangeiros homens que vêm ao Brasil como turistas, ou mesmo a trabalho ou estudo (sejam russos, franceses, norte-americanos ou latinos), se desencantam com a aparente moralidade das brasileiras, pois trazem enraizada a imagem equivocada de que vão encontrar um país de mulheres de peitos de fora, curtindo orgias e “swings” a cada esquina, imagem esta que o carnaval exporta para o exterior ( na verdade, prostitutas profissionais como se fossem mulheres brasileiras do dia a dia).

Mas, como somos “tupiniquins”, desconsideramos apenas os hermanos latinos (sem olharmos o próprio umbigo, destratamos o terceiro mundo como se não pertencêssemos a ele, e estivéssemos, inclusive, à altura deles), por isso a reclamação do amigo latino, pois tratamos com desprezo os latinos, e veneramos os europeus e norte americanos, como se estes fossem “algo mais que os latinos”, mas na verdade, todos os turistas homens (de qualquer nacionalidade, sem exceção), nos enxergam, nós mulheres brasileiras, fêmeas fáceis e disponíveis para sexo sem compromisso a qualquer hora, mas o preconceito contra os latinos é gritante, o que não é tão acirrado assim contra os demais estrangeiros (afinal, ousam dizer, estes são primeiro mundo enquanto aqueles...). 

Assim, preconceito instalado, nada conhecemos desses nossos hermanos (afinal, prá que conhecer gentalha do terceiro mundinho? dirão os preconceituosos mais radicais).

Para tentar minimizar essa imagem equivocada que temos dos hermanos de idioma espanhol, resolvi brindar essa nova amizade “invasiva” (o apelido é pertinente, pode parecer pejorativo mas, ao contrário, é um apelido carinhoso, uma brincadeira relacionada à medicina, pois o então amigo é médico), com detalhes da Colômbia, esse belo país recheado de praias (com um litoral imenso do mar do Caribe e o do Pacífico), mas tão sofrido e isolado como o nosso, sucateado pelas ditaduras, as guerras civis, o tráfico de drogas e as explorações das suas riquezas pelas grandes potências.

O aclamadíssimo escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez (“Cem anos de solidão”), em seu belo discurso, quando recebeu o Prêmio Nobel de Literatura na década de 80 pelo conjunto de sua obra, comentou sobre a solidão da América Latina, sempre excluída do cenário mundial (que, infelizmente, ainda assim o é).

Em um dos parágrafos do seu discurso, o premiado escritor diz: "A interpretação da nossa realidade a partir de esquemas alheios só contribui para tornar-nos cada vez mais desconhecidos, cada vez menos livres e cada vez mais solitários".

E continua o discurso, em plena guerra fria: “A América Latina não quer e não tem por que ser um peão sem rumo ou direção, nem tem nada de quimérico que seus desígnios de independência e originalidade se convertam em uma aspiração ocidental... como se não fosse possível outro destino além de viver à mercê dos dois grandes donos do mundo. Esse é, amigos, o tamanho da nossa solidão”.

Gabito (seu apelido entre os amigos, e “O grande Gabo”, como é conhecido mundialmente), hoje com quase 90 anos de idade e com perda de memória por demência senil, aproveitou o quanto pôde da sua fama internacional para atuar como um grande ativista pelos direitos humanos, tentando reverter o preconceito e o isolamento da América Latina no cenário mundial.

Confesso que até hoje não consegui terminar de ler a saga da família Buendia, dos “Cem anos de solidão” (parei de ler nas primeiras gerações, mas já me prometi recomeçar de novo), por conta da confusão das várias descendências com nomes repetidos (são sete gerações ao todo, por isso me perdi na sequência, pois na época não pude ler todo o livro de uma só vez). 

Trata-se de uma prazerosa leitura sobre a história fictícia e fantasiosa dos herdeiros de José Arcádio e Úrsula, moradores na também fictícia Macondo que, na verdade, retrata a verdadeira história sobre a origem da guerra civil que teve início na Colômbia com disputas políticas entre liberais, conservadores e socialistas, e que perdura até hoje, agora agravada  e financiada  pelo tráfico de drogas com sequestro de civis e frequentes assassinatos de políticos.

E claro, eu não poderia deixar de falar do cinema colombiano. Como no Brasil, o universo cinematográfico é modesto, e pior, muito mal distribuído por aqui, mas de vez em quando chega até a nós bons filmes.

Sob nova identidade, como Sebastián Marroquni, morando na Argentina, Juan Pablo Escobar (o filho do maior traficante, o colombiano Pablo Escobar, que imperou nos anos 70-90) pede perdão pelas atrocidades cometidas pelo seu pai no documentário “Los Pecados de mi padre”, filmado em 2009, numa carta endereçada aos filhos do ex candidato à presidência da Colômbia na época Luis Carlos Galan e do então ex-ministro Rodrigo Lara, todos os dois políticos assassinados brutalmente a mando do traficante, na década de 80, como inimigos políticos.

E o documentário (trailer no final do texto) termina com os órfãos enfim se conhecendo, e colocando um ponto final nessa triste história do passado negro do cartel de Medellín da Colômbia. Mas o país ainda sofre com as forças guerrilheiras marxistas das FARCs e as milícias de extrema direita, que culminam em sequestros de civis e assassinatos políticos, numa guerra  cruel e infindável que cada vez mais assola e afunda o país num triste e deprimente cenário mundial.
 
O ator porto-riquenho Benício Del Toro está cotado para viver Pablo Escobar no cinema, e já está em fase de filmagens iniciais. Espero que não seja mais um fiasco americano como o que transformou, há pouco tempo, num desastre cinematográfico outra famosa obra de Gabo, “Amor em tempos de cólera”, mesmo com grandes nomes de peso no elenco, como a nossa veterana atriz Fernanda Montenegro e o espanhol Javier Bardem, ao usar o idioma inglês com um ridículo sotaque “macarrônico” espanhol – é isso que dá fazer filme “prá inglês ver”, ou falando no melhor do estilo macarrônico, “prá ingresver”.

O filme colombiano “Maria cheia de graça” (trailer no final do texto) conta a história, muito comum no país, de mulheres que, para sobreviver, se transformam nas chamadas “mulas” que carregam drogas internacionalmente dentro do próprio corpo com todos os riscos de tal procedimento.

Sabemos muito pouco sobre a cultura colombiana, mas o contrário também acontece – os turistas, que aqui chegam, só têm acesso às celulites bundais tremulantes das "cachorras" e das letras de baixo calão do ridículo funk, às musiquinhas carnavalescas da Ivete Sangalo, às músicas do pobre diabo Michel Teló (com a desmiolada letra “ai se eu te pego”) e do retardado Naldo (um, dois, três, quatro, alto, em cima... que profundidade essa letra) e desconhecem nossa efervescente cultura revolucionária que aflorou na ditadura com artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, e os talentos mais recentes como Marisa Monte, Titãs, Adriana Calcanhoto, Paralamas do sucesso e tantos outros (vídeos no final do texto).

Desconhecem o talento revolucionário do “Clube de esquina” do Milton Nascimento e companhias ilimitadas (Lô Borges, Beto Guedes, Flávio Venturini, Geraldo Azevedo), em plena ditadura, burlando a censura com o famoso “Cálice” (“cale-se”), que se confirmou na prática num show ao vivo ( até então os militares tinham liberado a música, pois não tinham percebido a mensagem subliminar que havia por trás do “cálice de sangue”) – o cálice significava na verdade o “cale-se”, o calar de bocas pelos militares e o sangue dos torturados nos porões da ditadura – e  em pleno show os militares tomaram o teatro e emudeceram os microfones, consumando ao vivo, para sempre, o cala-boca da ditadura militar.

O cinema de Glauber Rocha foi também uma dessas manifestações contra a censura da ditadura militar – o filme “Terra em transe” é o maior representante dessa tortura dos subterrâneos da ditadura. Jornais como “O pasquim” denunciavam como podiam, e o então famoso “Jornal do Brasil”, numa tiragem histórica, colocou receitas de bolo como “notícia de primeira página”, numa verdadeira denúncia da censura no país, já que nada se podia divulgar.

Quem ouve a letra da música “Apesar de você”, pensa inicialmente que se trata de um homem injuriado com a traição de alguma mulher, mas foi escrita pelo Chico Buarque e também tem toda uma mensagem subliminar por trás da aparente “letra de corno” – "hoje  você (ditadura) é quem manda,  não tem discussão ...apesar de você (da ditadura) amanhã há de ser outro dia...juro, você vai pagar cada lágrima rolada... e esse dia há de vir antes do que você pensa...".

Chico, para driblar a censura, teve que adotar o pseudônimo de Julinho de Adelaide, pois os militares então calejados, passaram a censurar toda e qualquer letra do músico pois sabiam que tudo teria uma mensagem subliminar denunciando as torturas – a letra da música “Acorda amor” conseguiu enganar a censura e denunciava o desaparecimento dos cidadãos, considerados subversivos, nos porões da ditadura, com o som da sirene da polícia ao fundo (“...acorda amor... tem gente no vão da escada ...são os homens ...se eu demorar uns meses ... mas depois de um ano eu não vindo,  pode me esquecer... dias desses chega a sua hora... não discuta... clame... chame o ladrão").

E termino esse texto pela trégua entre os hermanos latinos, com o nosso poetinha Vinícius de Moraes, que se casou nove vezes, mas foi sempre fiel às suas mulheres  “que seja infinito, enquanto dure” (poema “Soneto da fidelidade”- veja abaixo).

As mulheres brasileiras raramente aceitam (muitas ainda toleram e perdoam, mas jamais aceitam) a traição, e as "cachorras" não representam nem um décimo das reais mulheres brasileiras. Ao contrário, as mulheres brasileiras em geral gostam de homens sensíveis e apaixonados, e por isso mesmo apaixonantes (Caetano em "Sozinho" mostra como é apaixonante um homem sensível e carente - vídeo abaixo).

E não há, em nenhuma região do Brasil, essas mulheres “calientes” que a mídia deixa divulgar para o estrangeiro nos vídeos-propaganda do carnaval brasileiro, e essa visão deturpada de que existe um “vale tudo” sexual, como orgias e sexo livre no Brasil, só incentiva a prostituição infantil, o turismo sexual e o tráfico internacional de mulheres. 

Urge mudarmos esses conceitos e preconceitos (e também pré-conceitos) que existem mutuamente entre nós latino-americanos, pois só a união indistinta dos povos da nossa tão sofrida e sucateada América pode nos tirar desse total isolamento no cenário mundial que já vai muito além dos “cem anos de solidão”. 

*link para o texto sobre Clarice Lispector:
http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2009/11/indecifravel-clarice-lispector.html






















sexta-feira, 5 de abril de 2013

A evolução do cinema: "Alfredo, é belíssimo".

“Uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”: a cabeça cheia de idéias mirabolantes e revolucionárias era a de Glauber Rocha e a câmera era uma “super 8”. A indústria cinematográfica ganhava, nas décadas de 60/70/80, um novo impulso com as novas bitolas das películas.

Para quem desconhece terminologia cinematográfica, bitola se refere à largura da película, que é expressa em milímetros; até então o cinema usava bitolas de 16 mm até 70 mm que, apesar da qualidade das imagens, exigiam máquinas pesadas de difícil transporte. 


Bitolas de filmes

Assim, a nova bitola de 8 mm, e a seguir a “moderníssima” super 8, a famosa “vedete” portátil de baixo custo dos anos 70/80 (que era da mesma largura que a de 8 mm, mas tinha espaço a mais para as imagens) na mão das cabeças pensantes e revolucionárias da época, acabou atiçando jovens cineastas sedentos por denunciar injustiças, num mundo de ditaduras e de guerra fria (ou mesmo guerras reais, alimentadas pela polarização entre dois mundos rivais, o capitalista e o comunista), mas também um mundo no auge de novidades nas artes, na música, na literatura e consequentemente no cinema.

Com a praticidade da nova câmera, mais leve e portátil, Glauber Rocha criou verdadeiras pérolas do chamado cinema novo brasileiro, tais como “Deus e o diabo na terra do sol” e “Terra em transe” (veja no final do texto). E a música também se beneficiou com a câmera portátil e, ainda nos dias de hoje, o formato “câmera na mão” faz a diferença na hora da praticidade em se deslocar de um lado para o outro.

Tanto que, ainda na recente virada do século, no início do ano 2000, o engenheiro de som Mark Johnson teve a bela idéia de, aproveitando a comodidade da "câmera na mão", montar um estúdio de gravação móvel para conectar o mundo através da música. Para tal intento ele reuniu, em um documentário, músicos de rua, de diversos lugares do mundo, de várias raças e religiões diversas, em seus “habitats” naturais, ao ar livre em parques, praças, estradas, montanhas, no Himalaia, na África do Sul, no Oriente Médio, na Europa e nas Américas, todos “conectados” virtualmente num mesmo objetivo, ou seja, levar paz e tolerância aos quatro cantos do mundo.

O projeto, intitulado “Playing for change” (que, anos depois do documentário, rendeu também um CD/DVD e um show ao vivo), contou com a participação de negros, brancos e indígenas, árabes, judeus e muçulmanos, todos interpretando hinos-pop de paz, cada qual com sua performance própria, num evidente apelo por um mundo melhor. 

Canções como “One love”, “War”, “No more trouble”, "Redemption Song" (todas de Bob Marley), “Talkin’ bout a revolution” (de Tracy Chapman), e a famosa  “Stand by me” (que ganhou fama mundial na voz de John Lennon) entre outras, são interpretadas de maneiras variadas por músicos violoncelistas, percussionistas e até pelo cavaquinho de um único brasileiro (entre mais de 100 músicos participantes), o músico César Pope. (veja abaixo e no final do texto).



Mas nem sempre tudo foi assim tão prático e versátil; se hoje temos salas de cinema com tecnologia 3D, e até 4D (ou seja, já não basta mais assistir em três dimensões, o espectador agora já pode ter a sensação de estar dentro do filme, com direito a fumaça, chuva, movimento e até cheiro), nos primórdios do cinema não havia nem o audiovisual. 

Nos primórdios da sétima arte, a exibição dos filmes, então ainda mudos, era acompanhada ao vivo por uma orquestra de músicos contratados para tocar durante toda a sessão de cinema; de acordo com a cena, a música dava ambiência ao conteúdo do filme, como forma de atrair e seduzir o público, complementando a experiência visual oferecida pelas imagens, e havia também em algumas salas a figura do narrador que tinha como papel explicar certas passagens do filme.

O vencedor do Oscar de 2012, “O artista” (trailer no final do texto) começa mostrando essa trajetória do cinema, mas já em sua fase final, exatamente na transição do cinema mudo para o cinema falado. E como a arte imita a vida e vice versa, assim como no filme "O artista", nem tudo foi aceito passivamente, tanto foi a resistência contra o cinema falado que o grande cineasta russo Serguei Eisenstein (diretor de "O encouraçado Potenkim") chegou a escrever um manifesto contra a implementação da técnica audiovisual. 

Muitos outros cineastas renomados também foram inicialmente contra a nova tecnologia; grandes nomes como Charles Chaplin assim como o diretor francês René Clair resistiram à novidade do som no cinema falado. Chaplin acreditava que só continuaria tendo sucesso nos seus filmes se fosse mantida a pantomima (arte de narrar com o corpo) do seu personagem Carlitos; mas o cineasta acabou se rendendo e "se despediu" divinamente do personagem vagabundo no filme "Tempos modernos", e ainda produziu grandes filmes já com a novidade audiovisual como "Luzes da ribalta" e "O grande ditador"(veja no final do texto). 

Outro avanço da indústria cinematográfica foi a evolução do material das películas; nos primórdios da sétima arte usava-se o nitrato de celulose como matéria prima das películas, um material termoplástico gelatinoso, quimicamente instável que podia se incendiar espontaneamente, e que por sua vez era misturado com cânfora, além de corantes e outros agentes, e que tinha um gosto adocicado de gelatina (que funcionava como uma “cola” para unir os componentes da película).

No belo filme italiano “Cinema Paradiso”, o diretor Giuseppe Tornatore, numa quase autobiografia, dá um “aula” sobre a evolução da tecnologia cinematográfica, dos anos 50 aos dias atuais (no caso, anos 90, quando o filme foi rodado) nos diversos diálogos entre os personagens principais. 

O projecionista Alfredo, amável e ranzinza ao mesmo tempo, ensina a arte do cinema ao menino Totó que, na prática, aprende qual o lado certo de colocar a película no projetor, lambendo e sentindo o gosto doce de gelatina (assista abaixo, numa das cenas, uma das "aulas sobre cinema" e, de quebra, a graça e a irreverência do personagem Totó, papel do então ator mirim Tornatore Cascio, xingando o veterano ator Phillipe Noiret, o memorável Alfredo, literalmente mandando-o "tomar naquele lugar").



E, sem acreditar na história de que a película poderia sofrer combustão espontânea, o ainda menino Totó amarga a triste experiência de comprovar a veracidade disso, ao tirar o velho amigo Alfredo de dentro do querido Cinema Paradiso completamente tomado pelas chamas. 

E já rapaz, crescendo na mesma proporção que o cinema, Totó filma apaixonadamente sua musa e eterna paixão adolescente com a então “moderníssima” câmera portátil “bitola 8 mm” (e a película já não mais se incendiava facilmente pois foi substituída por tri-acetato de celulose, muito menos inflamável), até tornar-se enfim, na vida adulta, um cineasta famoso já com o cinema em imagem VHS até chegar a digital dos dias de hoje, mas as lembranças do bom e velho cinema nunca sairiam da memória do menino cinéfilo e agora cineasta Totó (o alter ego do diretor Giuseppe Tornatore).

A história e a magia do cinema foi romanceada e imortalizada para sempre em "Cinema Paradiso", principalmente na antológica cena final - os olhos marejados do ator Jacques Perrim, no papel do Totó já adulto e cineasta, diante das belas cenas de beijos em preto e branco, resume toda a paixão do diretor pelo cinema, ao som instrumental da belíssima trilha sonora de Ênio Morricone. 

Como diz Alfredo, no filme, para o carismático menino Totó totalmente fascinado pelo cinema: "Abracadabra"; e minutos antes da película pegar fogo, encantado pelas imagens percorrendo as paredes até alcançar a praça, para deleite do público, o emocionado Totó diz: "Alfredo, é belíssimo" (veja abaixo). Realmente belíssimo . E inesquecível. "Bravo, Alfredo".

















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