"CINEMA é como um sonho...nenhuma arte perpassa a nossa consciência da forma que um filme faz: vai diretamente até nossos sentimentos atingindo a profundidade da nossa alma" (Ingmar Bergman, cineasta sueco).
Mais um ano que se fecha e, mais uma
vez, redobra-se a esperança por um mundo melhor no novo ano que recomeça.
Carlos Drummond de Andrade nos brindou com um poema que resume essa
bela mania nossa, a do milagre da renovação, de acreditar sempre que o novo ano
vindouro vai ser diferente, que vai ser sempre melhor que o ano que se finda.
“Quem teve a idéia de cortar o tempo
em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou
a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser
humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo
começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra
diante vai ser diferente”.
(Carlos
Drummond de Andrade)
E termino (vídeos abaixo) desejando
um feliz ano novo com uma homenagem do cinema de Carlitos, “o eterno vagabundo”,
ao som de Frejat, e também a bela música “Amanhã” de Guilherme Arantes cantada
pelo próprio e por Caetano Veloso.
O tão esperado “fim do
mundo” não aconteceu. Na verdade, era o calendário maia que estava com os dias
contados. Mas, como sempre, a expectativa em torno do fim dos tempos há muito ronda o imaginário do homem, principalmente quando grandes tragédias abalam o
mundo. Quem viveu a 2ª grande guerra, deve ter se sentido assim, com o
fim dos tempos às portas, com a sensação de que não restaria pedra sobre pedra,
que o homem se destruiria até não restar um único ser vivente. Os dramáticos
terremotos, maremotos e furacões que ultimamente têm varrido o planeta também dão essa
mesma sensação, ainda mais quando o ser humano é considerado o grande
responsável pelo chamado “buraco negro” e pelas dramáticas mudanças climáticas que
vêm assolando o nosso planeta.
Ou então, quando o ser
humano perde a noção de civilidade como nas tragédias dos massacres humanos,
como no passado com o Holocausto, assim como com os atuais massacres insanos em
escolas, cinemas e shoppings, em que um adolescente, portando armas ditas “de
assalto”, sai atirando a esmo em inocentes. Parece realmente que o fim do mundo
está a caminho.
Mais uma vez, com o mais
recente massacre de inocentes numa escola americana por um louco portando armas
de disparos múltiplos automáticos e semiautomáticos, vem à tona a velha
discussão sobre o porte livre dessas armas de guerra pelos civis americanos, e a
Associação Nacional do Rifle (a NRA), poderosa entidade com grande
representatividade política na América, ressurge com declarações insanas e
irresponsáveis, tais como: “se os professores da escola tivessem armas como as
do assassino eles teriam conseguido salvar os alunos daquela escola”.
Devaneando em torno dessas
traumáticas notícias sobre massacres de inocentes e da inusitada notícia do fim
dos tempos que estava “marcada” para meados de dezembro, não pude deixar de
pensar em cinema. A sétima arte já mostrou o Holocausto em inúmeros filmes e os
massacres de humanos inocentes em guerras e em chacinas políticas e raciais. E
a volta, na mídia, da NRA, fez lembrar-me do finado presidente daquela
associação, o ator Charlton Heston.
“A vida não é filme” diz
Herbert Viana, vocalista do Paralamas do Sucesso, na música “Ska”. Realmente se
pensarmos, por exemplo, num personagem de um filme, nem sempre o ator que o
interpreta retrata a personalidade daquele personagem que tanto nos marcou.
Quando ainda adolescente, já fascinada pelo cinema e com
tendências revolucionárias e anarquistas, me “apaixonei“ pelo personagem Taylor
(o protagonista do “Planeta dos macacos” vivido pelo então ator
Charlton Heston) para então décadas depois, totalmente desiludida, me deparar
com o ator como um petulante e reacionário presidente da tal associação de
rifles dos EUA (leia sobre o documentário “Tiros em Columbine”, aqui no blog, em novembro de 2010, com o ator em entrevista decepcionante ao diretor Michael Moore), tão diferente do personagem que um dia me encantei pela
bravura e defesa dos fracos e oprimidos.
Quando o pioneiro “O Planeta dos Macacos” foi lançado
nos EUA em 1968, o “ano da revolução”, eu, ainda menina numa cidade do interior
do estado do Rio de Janeiro, passei ao largo do processo da ditadura até que,
uma década depois, já adolescente, na transição do processo político sob a
eminência da democratização que estava por vir, esse e outros filmes ditos
“subversivos” foram gradativamente sendo liberados pela censura e já podíamos
ter acesso pelo então “Corujão da Globo”.
Antológica a cena final em que
o personagem Taylor cai de joelhos, estarrecido, quando descobre que estava o
tempo todo na Terra, que enfim o homem tinha conseguido destruir o planeta e a
si mesmo, ao ver a Estátua da Liberdade totalmente destruída, com parte dela
soterrada na areia de um mar deserto que nada mais era que a ilha de Manhattan
que estava o tempo todo ali.
Já o filme “O senhor das
armas”, do diretor Andrew Niccol, realizado em 2005, foi inspirado no russo
Viktor Bout, considerado o maior traficante de armas do mundo, que foi preso em
2008 e condenado no ano passado a prisão perpétua.
O filme conta a história de
um traficante ucraniano radicado na América, e Ethan
Hawke é o policial que tenta desmascarar os negócios escusos do comerciante de
armas Nicholas Cage, que por sua vez só se interessa com o lucro do seu negócio,
sem se importar com as atrocidades que há por trás dele.
É gritante a amoralidade do personagem do Nicholas
Cage quando denuncia a hipocrisia que há por trás das grandes corporações,
quando diz para o irmão viciado que “cigarros e carros matam mais que armas”. Ou
quando, ironicamente, diz: “só não faço mais negócio com Bin Laden, porque o cheque
dele sempre volta”.
O "Senhor das armas" mostra toda a mecânica do tráfico
de armas com as relações de poder entre os países e a hipocrisia entre eles. É uma crítica mordaz à política internacional do
controle de armas, principalmente envolvendo o governo americano, denunciada
nos diálogos mordazes que rolam por todo o filme: “mais garantido mudar governos
com balas do que com votos”, ou “quem vai herdar o mundo são os traficantes de armas,
pois os indivíduos estão muito ocupados em matar uns aos outros”.
Na abertura do filme,
ouve-se a música “For what it’s worth” (que se tornou um hino político nos
conturbados anos 60), da banda Bufallo Springfield (Neil Young era um dos
membros da banda), cuja letra emblemática resume os conflitos entre povos,
raças, facções e religiões, em que ambos os lados não sabem nem o por que do
inicio do confronto (“There’s something happenin’ here. What it is ain’t
exactly clear. There’s a man with a gun over there, telling me I’ve got to beware”).
E enquanto rola a música e
os créditos da abertura, o diretor filma a
trajetória de “vida” de um
projétil de arma de fogo, desde a sua fabricação em série e como o mesmo percorre
o mundo indo finalmente parar na cabeça de algum jovem e pobre diabo do
terceiro mundo.
E o filme conta também, como trilha sonora,
com a música "Cocaine" com Eric Clapton, a envolvente e emotiva
"Hallelujah" cantada por Jeff Buckley, "La vie en rose"
cantada por Grace jones e "Mama Africa" cantada por um grupo chamado
"Young Bakubas".
O diretor Andrew Nichols já
era conhecido pelo brilhante roteiro do filme “O show de Truman” (quem dirigiu
foi Peter Weir, o mesmo de “Sociedade dos Poetas mortos), filme que mostra Jim
Carrey como protagonista de um obscuro “reality show”, numa crítica mordaz à
grande mídia que nos cega e nos obriga a viver como autômatos. O “show de
Truman” é praticamente a “Matrix” dos anos 90.
O interessante é que o “Show
de Truman” (veja trailer no final do texto) nos remete de volta ao tema das
armas por conta da total ausência de reflexão da atual sociedade. A mídia impõe qualquer porcaria e a sociedade
a consome sem nem pensar, o que faz com que os governos e mercados tão
facilmente convençam os homens de que a guerra é necessária, que o consumismo
desenfreado é vital e que os civis estarão protegidos portando armas. E entorpecidos por um ritmo frenético de vida, manipulados
por meios de comunicação que nos dizem
como nos comportar e o que pensar, tornamo-nos uma fila de “bois mandados”
facilmente controláveis.
Voltando à questão das armas,
tanto no Brasil como nos EUA o cidadão não precisaria estar armado se houvesse
uma política e um governo que realmente controlasse a venda de armas, exigindo
pelo menos antecedentes criminais para a venda naquele país e desarmando os
criminosos no nosso, com uma política clara, consistente
e efetiva de combate à criminalidade e ao tráfico de armas.
No Brasil o filme campeão de
bilheteria “Tropa de elite” mostra como a população de bandidos está tão
equipada quanto a nossa tropa de elite, em matéria de armas de disparos
múltiplos e de longo alcance. Também o filme "Elefante", de Gus Van Sant (trailer no final do texto) foi inspirado no famoso massacre da escola Columbine, e mostra a facilidade dos jovens americanos em ter acesso a armas de altíssima precisão e poder de fogo que, junto com a prática do "bullyng" e a política do "looser", completam o caldeirão de conflitos nessas escolas americanas.
Em 2005, houve o referendo popular sobre a proibição da
comercialização de armas de fogo e munições no Brasil. A maioria da população brasileira
votou pela não proibição da venda de armas (a mídia ajudou a convencer o povo
mal instruído), mas pelo estatuto do desarmamento continua sendo crime um
cidadão comum brasileiro portar arma, ou seja, o cidadão deve mantê-la em seu
domicílio ou em seu trabalho para sua defesa nesses ambientes, mas o que vemos
na prática são acidentes domésticos com crianças e adolescentes curiosos, e
indivíduos que legalmente compram a arma mas ilegalmente a mantém em seu
alcance, envolvendo-se em brigas de trânsito, em brigas passionais entre casais
e em discussões fúteis sobre futebol em bares.
O que, no passado, se resolveria “no braço”, agora é fácil,
todo mundo vira macho com uma arma na mão, e se defender de bandido “neca de
pitibiriba”, pois bandido no Brasil tem arma “de assalto” e aprende a atirar, enquanto
a maioria da população comum brasileira não tem a menor noção de como atirar nem com uma arma comum, mas vai no embalo da mídia, vota a favor e compra a arma.
“Anarquista” que sou, na época do plebiscito de armas
no Brasil, eu me envolvi em vários embates com pessoas que insistiam em me
convencer a votar a favor da venda de armas para civis - alguém já tentou
atirar com uma arma de verdade? Pois eu já tive oportunidade, é muito difícil,
perde-se facilmente a mira ao se apertar
o gatilho, é preciso calma, sangue frio e muito preparo e treino para encarar
um bandido que, esse sim, tem sangue frio, e prática inclusive. No fim, são
inocentes que acabam pagando o preço de se ter uma arma em casa, tanto no Brasil como nos EUA.
Na América, já está provado que,
nos estados onde foi proibida a venda dessas armas, o número de mortos em
assassinatos em massa cai na proporção de mais de 50%, e no Brasil não há de
ser diferente em relação a acidentes domésticos e brigas fúteis no trânsito. Precisamos acabar com essa nossa mania de querer copiar tudo da América, aliás, tanta coisa boa para se exportar da América tais como o jazz e o blues, mas nós só assimilamos o que há de ruim e podre nos EUA.
Tem gente que acha que "a vida imita a arte", mas na verdade a arte é que imita a vida real. Pelo menos, assim o é no cinema. O cinema pode, muitas vezes, romanticamente florear a realidade, mas retrata as relações humanas na maioria das vezes. E o meu blog reflete isso, tudo o que me acontece no dia a dia me remete sempre ao mundo do cinema, porque algum cineasta já vivenciou e/ou cinematografou algo parecido. Mas o meu último texto "Tim, tim... um brinde aos inimigos" saiu sem nenhuma dica de cinema, porque tem gente que reclama dos meus textos, por serem "muito longos" (interessante que os bons textos nas boas revistas e nos bons blogs são sempre extensos - já fiz questão de comparar o número de palavras dos meus textos com os de periódicos famosos e meu texto ainda é bem menor que muitos deles), assim deixei as dicas para esse novo texto.
E também não pensei que o tema sobre psicopatas daria tanto "ibope". Quando escrevi o texto "Precisamos falar sobre os Kevins nas nossas vidas", já tinha assistido ao filme há algum tempo, mas tinha acabado de me confrontar com o meu ex-chefe psicopata - infelizmente o malévolo ocasionalmente frequenta o meu atual ambiente de trabalho e tenho que lidar com as barbaridades que ele faz num método complementar que ele finge que entende;
como já disse, ele é professor de medicina e totalmente incompetente no tal método, mas como todo psicopata ele é astuto, tem conhecimento muito superficial sobre o método, e só quem realmente entende do tal exame complementar (que ele faz parecer ser um "expert") percebe a total ignorância dele no assunto, ou seja, como costumo dizer, o tal professorzinho, phD em p... nenhuma, usa a tática do "Ctrl C - Ctrl V", ou seja, ele copia laudos anteriores de outros colegas e/ou junta inúmeras dicas de outros exames do paciente que sugerem um determinado diagnóstico e pronto, acaba "acertando" algumas vezes, e com isso vai enrolando os trouxas que não entendem o método.
Além de ter que conviver com os laudos equivocados do sujeitinho, ainda tive um embate com alguns colegas do trabalho porque, por não entenderem o poder de persuasão desses indivíduos macabros, fazem pilhéria da situação, e eu simplesmente não suporto quem leva na brincadeira assunto tão sério como esse. Mas devo admitir que a última foi realmente engraçada - em medicina, um exame de qualidade que tem grande especificidade é chamado de "padrão ouro", ao que um dos colegas gaiatos disse, dos exames feitos pelo tal professorzinho, que os mesmos têm "padrão urina".
Realmente hilário, mas ao mesmo tempo triste, pois os maiores prejudicados são os pacientes que recebem diagnósticos equivocados que comprometem a conduta dos seus tratamentos (pelo menos, minhas denúncias geraram bons frutos, a maioria dos colegas do meu setor já confirmaram, na prática, a imperícia do fulano e não mais acreditam na competência do tal professorzinho e debocham do mesmo, desconsiderando e descartando os laudos do fulano, a tal ponto de mandarem o paciente "jogar o laudo no lixo", dizendo que "não serve nem como papel higiênico").
A maioria comentou o texto sobre psicopatas por"via e-mail", apenas um anônimo o fez pelo blog e indicou o site http://delivro.blogs.sapo.pt/ e me pediu que comentasse sobre o mesmo. O site reúne inúmeros depoimentos de pessoas que tiveram, assim como eu, um psicopata rondando e tentando destruir sua vida. São depoimentos sofridos de quem teve um psicopata como pai, como filho, como marido, como chefe, como confessor, e dá inúmeras dicas para reconhecimento desse que é um verdadeiro camaleão da sociedade atual, predadores sociais de personalidade histriônica que se infiltram na nossa sociedade sob a forma de "bons" partidos,"generosos" chefes, profissionais "competentes", "devotados" religiosos.
Psicopatas são na verdade verdadeiros vampiros emocionais, sugam a energia das suas vítimas até destruí-las e o fazem sem nenhum remorso ou compaixão. E a cada depoimento, os internautas do tal site deixam, como dica, o contato zero, ou seja, nenhum contato é o único jeito de lidar com o malévolo pois todas as relações com o fulano é no mínimo doentia e destrutiva.
O cinema não cansa de mostrar os tais sujeitinhos macabros, mas se detém nos mais malévolos, os "serial killers" principalmente, como já citei no texto anterior. Assim, misturando os dois textos anteriores, deixo mais dicas de cinema englobando os dois temas, pois os psicopatas são os piores inimigos da sociedade contemporânea e temos que aprender a lidar com eles (ou melhor, aprender a reconhecê-los e nos afastar deles).
A atriz Julia Roberts já passou "o pão que o diabo amassou' com um deles como marido, no filme "Dormindo com o inimigo" (veja trailer no final do texto) e a "babá" Rebecca de Mornay mostra traços de psicopatia no suspense "A mão que balança o berço"(trailer no final do texto). No terror "A órfã", a personagem do título também "passeia" pelo universo da psicopatia, não há remorso por trás da crueldade com que se livra de suas vítimas.
Mas, para não deixar a coisa só no âmbito da psicopatia, o inimigo pode ser o próprio ser humano, como no antigo, mas belo e singelo, filme "Inimigo meu" (trailer no final do texto) em que a amizade com um extra-terrestre parece inverossímil, quase improvável.
E a elogiada série americana intitulada "The walking deads", mostra um mundo tomado por zumbis, em que a maioria da população por uma razão desconhecida se transformou em mortos-vivos, e os poucos humanos sobreviventes, apesar do mundo hostil que restou, ainda agem como predadores de si mesmos, não confiam na própria raça humana, muitos deles continuam mesquinhos, pervertidos e desumanos, eternos inimigos de si mesmos (e como não podia deixar de ser, um psicopata aproveitador entra em ação, na emblemática figura do "carismático governador"). A música de abertura da série é do compositor Bear McCreary e vai num crescendo de sons de violinos (veja abaixo) e, por si só, já é um chamariz, dá vontade de ver a série só pela abertura empolgante. Baseada em uma história produzida inicialmente em quadrinhos, a série tem como principal protagonista o ótimo ator Andrew Lincoln (em "Simplesmente amor" ele era aquele tímido personagem apaixonado pela mulher do seu melhor amigo). Vale a pena assistir, mas já está na 3ª temporada. A série é excelente porque, por trás da aparente e única necessidade básica que é sobreviver num mundo de "walkers", a série mostra que, no meio do caos que assola todo o planeta, o que ainda importa são as relações humanas, pois são elas que farão a diferença na luta pela sobrevivência. Num mundo desesperançoso, a série aborda os eternos conflitos das relações entre os seres humanos, tais como fidelidade, traição, amizade, lealdade, confiança, companheirismo e tantos outros sentimentos genuinamente humanos. "Demasiadamente humanos" (parafraseando Nietzsche).
Um amigo me mandou a interessante história de uma pequena e frágil velhinha de 98 anos que, numa reunião de cunho religioso, quando o pregador pergunta quem estaria disposto a perdoar seus inimigos, ela foi a única que não levantou a mão, alegando "não ter inimigos". Toda a platéia entusiasticamente aplaude a senhorinha, e eis que o pregador a chama ao palco para dar seu belo testemunho, afinal chegar aos 98 anos sem inimigos não é para qualquer um, e eis que, com extrema dificuldade, amparada pela sua bengala, se dirige ao público (este ansioso pelas sábias palavras daquela aparente doce e frágil velhinha), e diz: "Eu não tenho inimigos porque todos aqueles filhos da puta já morreram". Eu sabia que a tal velhinha não ia me decepcionar, afinal inimigos são vitais para nosso crescimento, quem não tem inimigos acaba estagnado na vida. Claro que ter amigos é mais importante, mas todos nós precisamos de uns "inimiguinhos" para nos estimular a dar a volta por cima (não precisa passar por cima do sujeitinho, pois a vida certamente dará conta disso, mas dar a volta por cima é, no mínimo, vital). Claro que amigos são de suma importância na nossa vida, nos dão o ombro é bem verdade, mas os amigos em geral apenas nos acalentam e nos confortam, mas quem nos faz jogar duro para vencermos é sempre o inimigo que, à espreita, sempre que pode, tentapuxar o nosso tapete. Assim, mais um ano que se finda, hora de celebrar, então brindemos também aos nossos inimigos, pois graças a eles evoluímos porque, "ao nos jogarem no penhasco, nos dão a oportunidade de voar" (ainda mais no meu caso que, como dizem meus amigos, sou um "anjo rebelde", rsrsrs) . Os nossos inimigos contribuem mais do que se pensa para o nosso aperfeiçoamento. Eu, por exemplo, no meu trabalho, mandei meu agora ex-chefe, psicopata mau caráter e incompetente, para o quinto dos infernos, e o que parecia ter sido prejudicial para mim, ao contrário, me proporcionou crescer mais ainda profissionalmente, acabei me aperfeiçoando numa hiper-especialidade onde poucos atuam na minha área profissional. E, na verdade, o que dói mesmo, como dizia Martin Luther King, é que no final não mais nos lembraremos das palavras duras dos nossos inimigos, mas sim do silêncio dos nossos amigos (que foi o que aconteceu comigo, quando fui massacrada pelo meu então chefe) e, como na música "Ideologia", dizia Cazuza: "meus heróis morreram de overdose e meus inimigos ainda estão no poder"( mas no caso do meu ex-chefe, a incompetência e imperícia do fulaninho vêm, pouco a pouco, sendo desmascarada; será que a justiça existe mesmo?! Tarda, mas não falha??!!). Um velho ditado, que é atribuído aos chineses, diz: "vida longa aos meus inimigos para que possam assistir de pé à minha vitória". E o que não faltam são frases célebres sobre inimigos: "recolha as pedras no seu caminho, faça uma escada e suba, mas não derrube os seus inimigos, apenas faça com que se ajoelhem". Outra frase famosa:"meu pavio é longo, como um pavio de dinamite, para que meu inimigos corram antes que eu os mande pelos ares". Mais frases célebres: "sou um pouco do que os meus amigos me ensinaram e um pouco do que os meus inimigos me fizeram aprender". E a famosa frase emblemática que resume esse meu texto: "se você não tem inimigos, aceite um conselho, trate de arranjá-los". Para terminar esse texto, deixo as palavras de Frejat: "eu te desejo muitos amigos mas que em um você possa confiar, e que tenha até inimigos prá você não deixar de duvidar..." (vídeo da música, no final do texto). E uma excelente dica: para quem não assistiu, a peça teatral, baseada em livro homônimo, "A alma imoral" com a atriz Clarice Niskier, está de volta ao Rio de Janeiro até meados de dezembro. O rabino Nilton Bonder, autor do livro, compara a nossa atualidade com passagens da Bíblia e nos revela que é nossa alma que nos impulsiona a nos rebelar e assim evoluir, por isso imoral é a nossa alma e não o nosso corpo (detalhes sobre a peça e o livro, aqui no blog, em novembro de 2009, no meu texto intitulado "A alma imoral"). Não deixem de assistir, é imperdível (corram, a temporada termina dia 16).