Mas antes, quero comentar os demais e-mails.
Questionaram que nós, mulheres, queremos ser compreendidas, mas que não nos
esforçamos para compreender os homens, tipo "homens gostam de
futebol" e que muitas de nós implicamos com essa “natureza masculina”.
What???? Como é que é?? Mas quem disse que gostar de
futebol é universal e inerente ao sexo masculino??? Os brasileiros é que gostam
de futebol, ou seja, futebol não é "da natureza do homem", americanos
gostam de "footbal" ou "soccer" (que na verdade é uma
variação do rúgbi em que se usa a mão para conduzir a bola) e canadenses mal
sabem quando rola a copa do mundo (o esporte nacional canadense no inverno
é o hóquei no gelo e no verão é o lacrosse), o futebol canadense até
existe, mas ninguém lá é fissurado (e nem por isso os canadenses
são "gays só porque não curtem a nossa bola no pé" e, “leva a
mal não”, os nossos queridos gays é que "a-do-ram de paixão” as famosas “encoxadas
e apalpadas" do nosso futebol).
Então, não me venham com essa de que
"futebol faz parte da natureza dos homens" (seria o equivalente
dizer que novela faz parte da natureza da mulher, e assim como futebol, eu também
detesto novelas), homens gostam sim de esportes em geral, mas isso nós mulheres
também gostamos, principalmente dos meninos do vôlei e do surf (hihihihi), mas
quanto aos manés analfabetos do futebol...(irc).
Brincadeiras à parte, eu acredito que, se o
Brasil investisse mais nos demais esportes, estaríamos muito melhor “na fita”
(vide a bela apresentação da nossa judoca Sarah Menezes, que, quase sem
patrocínio, acaba de faturar a medalha de ouro da atual Olimpíada de Londres,
perfil de verdadeira atleta, o que há muito não vemos nos campos de futebol,
apesar dos patrocínios milionários e dos exorbitantes salários desses marginais
do esporte nacional).
Certa vez, um colega
de trabalho, fanático por futebol (e, segundo meu “viadômetro”, ele na verdade é
mais fissurado nas coxas dos jogadores), praticamente me mandou sair do país, alegando rispidamente que “quem não gosta de futebol não deveria ser brasileiro”, só por eu insistir não
gostar de futebol (e muito menos de discutir futebol) - já gostei muito na época
dos verdadeiros desportistas, ainda mais com a empolgante música “noventa
milhões em ação” (é bem verdade que havia “os porões da ditadura”, mas menina
que eu era, não podia ser rotulada de alienada), mas agora com esses
mercenários e marginais (principalmente os do Flamengo) travestidos de
atletas....
Se há algo que me
irrita é alguém que diz “política e futebol eu não gosto e não discuto”.
Política não é para gostar, é uma obrigação que temos como cidadãos eleitores,
pois os nossos governantes são frutos do nosso maior ou menor envolvimento com
o processo político e eleitoral, portanto política se discute sim, goste ou
não, mas futebol...
Eu tenho direito, como
cidadã de uma nação democrática como a nossa, de não gostar (e inclusive de ter a
liberdade de dizer que não gosto) de futebol, e não aceito que um enrustido não
assumido que se finge de machão (não sei a quem ele quer enganar, sou mais os
gays assumidos que têm coragem de se impor numa sociedade machista) me hostilize,
me apontando o “caminho do aeroporto” (e não é a toa que, hoje, ele é um
ex-amigo, ou melhor, um ex- pseudo amigo, pois esta foi apenas uma das muitas
ofensas proferidas por ele gratuitamente - mal amado é assim mesmo, só o dia que "sair do armário e soltar a franga" é que vai melhorar o astral).
Mas, voltando aos comentários que recebi por
e-mail sobre o meu texto (eu sou assim mesmo, vou de um tema a outro, falo
pelos cotovelos, e “adorável anarquista” não consigo ouvir impropérios e ficar
calada), aproveito a dica do amigo para falar sobre esse outro instigante e
intrigante filme, do (também polêmico) diretor polonês Roman Polanski.
“Lua de fel” (título original “Bitter moon”,
década de 90) mostra o lado obscuro das relações, quando o instinto do amor se transforma
no instinto de poder e obsessão. No filme, o
romance e a paixão avassaladora saem de cena para dar lugar à tragédia, e mostra
como o amor, que deveria ser um encontro permanente entre um casal, pode se transformar
em desejo de possessão e submissão.
O cinema pode funcionar quase como “um
terapeuta”, com preciosas dicas de como conduzirmos nossos relacionamentos, nos
apontando caminhos que podemos seguir, ou mesmo armadilhas que podemos evitar nas
diversas relações interpessoais, em especial as amorosas. E esse filme é um
deles.
Durante uma viagem de cruzeiro, um casal de
ingleses (o charmoso ator Hugh Grant e a atriz Kristin Scott Thomas) conhece um escritor
americano paraplégico (vivido pelo ator Peter Coyote) e sua sensual companheira
(a atriz Emmanuelle Seigner, casada na vida real com Polanski).
O paraplégico, então um fracassado escritor, conta ao
personagem de Hugh Grant como conheceu (antes da tragédia que o colocou numa
cadeira de rodas) a estonteante garçonete, e relata em detalhes (cenas em
flashback) o que, no início, era uma paixão avassaladora, recheadas de brincadeiras
sados-masoquistas sexuais (algumas picantes, outras bem ridículas e inclusive humilhantes), e que com o tempo dá início a um jogo cruel de ciúme doentio, possessão e sadomasoquismo físico e mental em que o algoz passa a vítima, e a vítima a
algoz, num ciclo vicioso sem controle e sem volta.
O niilismo levado ao extremo e a ausência de alteridade são
o mote central da vida do casal americano que acabam por sucumbir os dois num
misto de amor e ódio irrefreáveis.
As “cores”, aparentemente muito carregadas,
que o filme retrata em relação ao sadomasoquismo e a possessão do casal
protagonista, podem até parecer exageradas, mas na vida real muita gente vive
esse mesmo ciclo destrutivo – por medo do abandono, aceitam-se humilhações
inclusive públicas, muitas mulheres sofrem caladas as traições dos parceiros
por pura falta de amor-próprio e auto-estima.
A bela trilha sonora do maestro grego
Vangelis (o mesmo de “Carruagens de Fogo” e “Blade runner”) preenche todo o
clima denso e tenso da trama, e a música “Slave to Love” que toca no baile de
fim de ano no cruzeiro ameniza o clima para preparar a surpresa e a tragédia
que estão por vir no “fechar das cortinas”.
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