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domingo, 22 de julho de 2012

O erótico, inquietante e polêmico "De olhos bem fechados"

Há poucos dias, uma amiga me mandou um texto de provável autoria do Veríssimo (nunca se sabe ao certo, com a profusão de textos apócrifos que rolam na internet). Mas qualquer que seja o autor, o texto é pertinente nos dias de hoje: “Mulher vive de carinho. Dê-lhe em abundância. Se ela não receber de você, vai pegar de outro”. E continua: “Se você quiser ser um grande homem, tenha uma mulher ao seu lado, nunca atrás. Assim quando ela brilhar, você vai pegar um bronzeado, mas se ela estiver atrás, você corre o risco de levar um pé-na-bunda”.

E o texto não pára por aí, e ao lê-lo, fez lembrar-me de um papo que tive, há algum tempo, com amigos homens que me indagavam qual seria, para mim, o verdadeiro traidor: o homem que dá uma escapulida de vez em quando com uma mulher qualquer que passou na sua frente, sem nenhum envolvimento emocional, e que nunca mais vão tornar a se ver (num congresso, foi o exemplo do colega) ou aquele que mantém uma amante fixa (uma colega do trabalho foi o outro exemplo) em que o fulano convive todo dia e que acabou rolando um “affair” proibido. A pergunta era capciosa, sugerindo que, para eles, pelo menos a primeira opção deveria ser perdoável por nós mulheres.  

Na época, respondi que “traição é traição, não importa as circunstâncias que levaram a tal” e rebati a pergunta, indagando ao fulano: “e se a sua mulher tivesse partido para uma dessas “escapulidinhas” sem compromisso?, ao que ele inocentemente me respondeu: “não tenho essa resposta, porque nunca passei por isso (coitados, os homens são tão seguros de si).

Em tempos de “periguetes” (o “tema da moda” nos dias de hoje), minha resposta hoje continuaria a mesma, traição é traição, não perdôo traidores apenas porque a traição fere minha auto-estima, me sinto preterida e o relacionamento esfria sem chance de reconciliação.

Mas, pensando na concorrência desleal das periguetes (afinal, para o homem, com elas não rola dúvidas no quesito “ou dá ou desce”) minha resposta hoje seria jamais perdoar o homem que resolve ceder aos apelos carnais de uma qualquer que surja na sua frente, pois isso fere muito mais a auto-estima do traído (sinal que o sexo em casa não basta para o fulano, que  precisa “afogar o ganso” na redondeza) do que uma amante “fiel” (que o fulano conheceu no trabalho, por exemplo), porque prova que o relacionamento oficial é que está falido e não havia busca por sexo apenas, e uma convivência diária num trabalho pode fazer surgir sentimentos nobres entre pessoas com algo em comum (mas ainda assim, não aceito a traição, pois o fulano deveria antes resolver seu relacionamento falido e depois sim partir para outro, pois é mais nobre e menos humilhante para o traído).

E, cinéfila que sou, elucubrando sobre esses diversos assuntos ao mesmo tempo - traição, desejos reprimidos, casamentos falidos, homens seguros de si quanto às suas parceiras e claro, a concorrência desleal das periguetes - não pude deixar de me lembrar do inquietante “De olhos bem fechados”, de Stanley Kubrick.

“De Olhos Bem Fechados” (título original “Eyes wide shut”) última produção do consagrado cineasta norte-americano Stanley Kubrick, mergulha Tom Cruise e Nicole Kidman em uma trama desconcertante que fala sobre desejos (recalcados e não consumados, em sua maioria), fantasias sexuais (reprimidas em grande parte) e (in)fidelidade no casamento (em geral falido).

Quem é cinéfilo e curte cinema procura se informar de tudo que rola antes, durante e depois de uma filmagem, e assim os boatos que circulam nos bastidores de um filme em produção chegam à mídia sempre recheados de especulações e polêmicas, e não foi diferente na época do lançamento deste inquietante “De olhos bem fechados”.

Na virada do século XX/XXI, morre o cineasta Stanley Kubrick, deixando como legado, uma respeitável (e polêmica) filmografia – dirigiu grandes sucessos de bilheteria e de crítica, entre eles “Laranja Mecânica”, “O iluminado”, “Nascido para matar” e “2001, uma Odisséia no espaço”.

Kubrick morre exatamente uma semana depois de apresentar para a Warner a primeira cópia do que seria seu último filme. Perfeccionista compulsivo, é bem provável que o diretor retocasse a obra antes de chegar ao público, que mais parece uma obra inacabada, pois o final da película parece querer agradar mais ao estúdio do que ao próprio artista.

Na época da produção do filme, surgiram lendas, mistérios e especulações diversas sobre a obra de Kubrick. Os tablóides “revelavam” que Tom Cruise apareceria vestido de mulher, que Nicole Kidman seria uma viciada em heroína, e o casal (então ainda juntos, e um dos mais bem pagos de Hollywood), participaria de orgias e cenas sados-masoquistas.

Na verdade, o filme começa bem ao estilo Kubrick, um verdadeiro gênio com uma inquietude ímpar, um exímio visionário, sempre disposto a demolir toda e qualquer concepção enraizada e pré-concebida, e que sempre voltou suas lentes para a alcova, filmando sem pudor a loucura, o descontrole, a ambição e as fraquezas humanas (é dele O iluminadoLaranja Mecânica“2001 uma Odisséia no espaçoe esse “De olhos bem fechados” não é diferente.

Mas o conteúdo supostamente "polêmico" que os tablóides insistiam em publicar previamente ao lançamento da película, simplesmente não existe. O filme é, no máximo, tal qual seu diretor, desconcertante e inquietante.

Uma congregação secreta, dedicada ao hedonismo e ao prazer sem limites é a única “polêmica” do filme e até hoje a obra sofre acusações de "apologia e culto ao satanismo" e outras bobagens do gênero, esquecendo-se que o bom cinema é aquele que não esconde do público a realidade da vida, mostrando que no submundo existe tais congregações. Isso não quer dizer que necessariamente o diretor aprova o contexto e assistindo ao filme é o que se atesta. 

Na época gerou tanta polêmica que uma ridícula manipulação digital, por parte da censura americana, encobriu os órgãos genitais dos nus frontais femininos e cortou as cenas da famosa orgia dos figurantes mascarados (no Brasil foi exibida na versão original do diretor), que na verdade nada tinha de “caliente”, muito pelo contrário, Kubrick filmou cenas de coito extremamente gélidas e robóticas, denunciando uma sociedade reprimida e manipulada (os mascarados escamoteados) que ironicamente se revelou na prática, com a censura das cenas no mercado cinematográfico americano


No final o que se vê na telona é uma reflexão sobre a hipocrisia do casamento e a natureza do impulso sexual. É possível trazer à tona as mais inconfessáveis fantasias sexuais (e mulheres como a personagem da Nicole Kidman as têm, para desespero do personagem de Tom Cruise, e de quebra, um alerta para homens seguros de si como o meu amigo em questão) e voltar depois para o abrigo seguro da (in)felicidade conjugal?


Para terminar, ainda o suposto texto de Luís Fernando Veríssimo (vídeo abaixo): “Respeite a natureza, mulheres menstruam, choram por nada, gostam de falar do próprio dia e de discutir a relação. Você não suporta TPM ? Vire gay e case-se com um homem”. Simplesmente genial.






sábado, 14 de julho de 2012

As referências do curta "35 mm"

Aqui estão as prováveis referências dos filmes que aparecem na forma de animação minimalista no curta-metragem "35 mm" - postei novamente o curta (abaixo) para quem quiser conferir simultaneamente -  as interrogações são as dúvidas que talvez só os verdadeiros autores do curta é que poderiam decifrar corretamente. Alguém se habilita a completar a lista? 
1) A chuva de notas musicais em “Cantando na Chuva”(alguns acham que a seguir tem o som de um navio, o "Titanic", mas se for, ultrapassaria os 35 filmes)
2) A barbatana, os dentes e a música do “Tubarão”
3) O símbolo da paz dos soldados na guerra do Vietnã em “Nascido para Matar” ("Full Metal Jacket" de Stanley Kubrick)
4) O sangue escorrendo pelo ralo em “Psicose” 
5) O vestido da “Dama de Vermelho” 
6) O mesmo vestido no escuro sob holofote de luz em “Vestida para Matar” 
7) Os “garfinhos dançarinos” é a cena clássica do eterno vagabundo Carlitos na dança dos pãezinhos, no filme “Em busca do ouro” ("The gold rush")
8) As placas do “Taxi Driver” Robert de Niro
9) Um “ninho de cucos" em “One flew over the cuckoo’s nest (“O Estranho no Ninho” Jack Nicholson)
10) O 1º chapéu é de Sherlock Holmes ???? o modelito é o que Robert Downey Jr usa no remake atual
11) Vários tipos de chapéus sendo o último de bruxo em “Aprendiz de Feiticeiro”?????? Alguns acham que os chapéus voando seria "E o vento levou" (????)
12) A maçã cortada ao meio: Beatles em "Sgt Peppers” ????? 
13) A maçã mordida da “Branca de Neve e Os Sete Anões
14) A música ao fundo de “A feiticeira” 
15) Os óculos dos “Irmãos Cara de Pau” 
16) Os óculos com um ponto vermelho: Arnold Schwarzenegger em “O Exterminador do Futuro 3”
17) A saga "Star Wars" com Darth Vader e as naves espaciais atirando  



18) O raio de sol em “Hair” ?????
19) Os olhos em cruz e o sorriso em “O anjo malvado” ?????
20) A cruz vermelha de cabeça para baixo e o sino da igreja do “Exorcista”
21) O som e as hélices dos helicópteros em “Apocalipse Now” 
22) Os olhinhos e as vozes dos ETs de “Toy Story” 
23) O olho, com maquiagem ao redor, do Malcom MacDowell em “Laranja Mecânica” 
24) As engrenagens de “Tempos Modernos” de Charles Chaplin 
25) Relógios marcando tempo: ?????? 
26) Faróis no escuro: "Contatos imediatos do 3º grau" ?????? 
27) Grama sendo cortada??? seria o cortador de grama do velhinho de "Uma história real" ("The Straight story") de David Lynch ???? 
28) Bengala, bigode e chapéu dos vários filmes do eterno vagabundo Carlitos  
29) Os dois olhos de James Stewart atrás da persiana que se abre em “Janela Indiscreta” 
30) Coração dividido e partido: ???? 
31) A ascensão do nazismo aos olhos do menino de “O tambor” 
32) As presas sangrando do “Drácula” 
33) “Os Intocáveis” Kevin Costner e Andy Garcia contra os capangas do Al Capone Robert de Niro, na famosa cena do carrinho de bebê rolando escada abaixo no meio dos estilhaços de metralhadoras (e prá quem não sabe, a cena na verdade é uma homenagem do diretor Brian de Palma à famosa cena do massacre na escadaria Richelieu da cidade de Odessa pelo exército do czar russo, no filme “Encouraçado Potenkim", da década de 20, do grande nome do cinema russo Sergei Eisenstein 
34) “Apolo 13” o foguete que não chegou à Lua  
35) O som da Harley-Davidson e as cores do “Capitão América” Peter Fonda  (as cores e as estrelas da bandeira americana na "route 66")  em “Sem destino”(“Easy rider”). 

No final do texto, algumas das cenas desses famosos filmes. E, se você gostou das dicas de curtas de animação do último texto "Curta um curta", outra dica é o festival "Anima Mundi" que começou ontem, dia 13, em várias salas de cinema e centros culturais do Rio. 

O festival carioca nasceu na década de 90, se expandiu para São Paulo (a temporada termina no final do mês em Sampa) e ganhou respeito das comunidades internacionais de curtas, tendo atualmente intensa participação de curtas estrangeiros, conquistando assim o seu "lugar ao sol", tanto que atualmente os curtas vencedores do "Anima Mundi", além do prêmio, ganham "um passe" como pré-candidatos para se tornarem "oscarizáveis". O endereço do site é http://www.animamundi.com.br/.











domingo, 8 de julho de 2012

Curta um curta

Eu simplesmente fico sem papo quando estou numa roda de amigos que só falam de futebol (no caso dos homens) e novelas (no caso das mulheres), e mais chato ainda quando os mesmos invertem os tradicionais papéis, ou seja, mulheres que parecem adorar discutir futebol (tenho minhas dúvidas se gostam mesmo ou se é só teatro, para serem "admiradas" pelos machos) e pasmem, tenho amigos (não gays, o que é pior) que adoram comentar sobre o último barraco que rolou na novela das oito (ou no BBB, outra chatice homérica). 

E eu acabo me recolhendo na minha saudável ignorância nesses assuntos prá lá de chatos e batidos, sempre a mesma ladainha (foi pênalti ou não? era impedimento ou não?), haja cultura inútil e papo simplesmente jogado fora, na minha visão de cinéfila (assistir futebol, vá lá, mas ficar horas discutindo o quê??? não dá prá entender prá quê tanta falação, prá mim não tem nada prá discutir, no máximo comemorar ou lamentar, e só) – dizem "é a preferência nacional", eu acho que é falta de conhecimento das boas coisas da vida, de coisas realmente relevantes que provoquem reflexões profundas e podem mudar inclusive a visão do mundo, por dentro e fora da gente, e aí quando eu pergunto o que acharam do curta que ganhou o Oscar, parece que eu sou uma ET, mal sabem do que se trata, quanto mais emitir opinião sobre tal assunto.


Um curta-metragem é um filme de pequena duração, que em geral dura de 15 a 20 min, podendo chegar até a 40 minutos no máximo, incluindo os créditos, segundo as regras da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos (cujo prêmio anual de cinema é o Oscar). O gênero que mais utiliza esse formato é a animação, mas também é muito usado em documentários e em filmes de estudantes de cinema e publicidade. Por conta disso, a academia americana criou dois prêmios para essa categoria: O Oscar de melhor curta de animação e o Oscar de melhor curta “Live action”.

Quem vem se firmando no mercado de curta-metragem de animação é a Pixar Estúdios que, desde a estréia de Toy Story nos cinemas, vem cultivando o hábito de exibir um curta antes de cada novo longa-metragem. Um dos mais recentes foi “Day and Night”, do cineasta americano Teddy Newton, que retrata o embate do personagem “o dia” com o personagem “a noite”.

O curta intitulado “O dia” mostra toda a sua graça e luminosidade solar (ao som da música “Desafinado” do nosso Tom Jobim, na voz do eterno “bossa nova” João Gilberto) enquanto “a noite” tenta provar que tem mais a oferecer com a sua magia e suas estrelas. Um páreo duro, até que descobrem o crepúsculo, misturando o dia com a noite em todo o seu esplendor, e “o dia” se transforma na “noite” e vice-versa. Uma graça esse curta-metragem, um aprendizado sobre como lidar com as diferenças muito bem metaforizadas entre o dia e a noite e como dar valor às pequenas coisas da vida. Concorreu ao Oscar de melhor curta de animação de 2011, mas não levou.



“A senhora e a morte” concorreu ao Oscar em 2009 – a história é uma lição para nós médicos que nos julgamos onipotentes na nossa missão como profissionais competentes, e acabamos prepotentes sem saber dosar o limite até onde a medicina deve insistir e investir para preservar a vida. Conta de maneira divertida a história de uma velhinha que percebe que chegou a sua vez de ser ceifada pela “Dona morte” e se prepara para ir ao encontro do seu velho amado, mas eis que o presunçoso doutor...



La Maison en petit cubes” levou o merecido Oscar de 2008 e conta a história de um velhinho que vive desde a infância numa cidade eternamente inundada, e a cada subida do nível da água, quando a casa começa a ser novamente inundada, constrói-se outra casa, tijolo por tijolo, uma em cima da outra a cada nova inundação. Vivendo sozinho na casa, um dia, ao deixar cair o cachimbo na água, coloca seu escafandro para tentar recuperá-lo e ao descer vai recordando seu passado, de casa em casa, sua infância, seu casamento, seus filhos. A animação, que não tem falas, apenas uma suave e singela música incidental, é uma bela e triste metáfora do claustro e da solidão que a velhice traz, levando os nossos entes queridos, e nos deixando à nossa própria sorte, apenas com nossas recordações.



São muitos os belos curtas, não dá prá falar nem da décima parte deles. Deixo a lembrança do belo curta brasileiro que venceu um concurso internacional do “youtube” em 2007 – “Laços” foi escrito e produzido pela então estudante de cinema Flávia Lacerda (atualmente atriz), e mostra a tocante história da jovem adolescente que precisa encarar precocemente fatos dolorosos da vida, e se surpreende (e nós também) com a ajuda inesperada de um aparente desconhecido que, de repente, surge à sua frente.



E prá finalizar, no final do texto, fique com mais e mais curtas divertidos da Pixar Estúdios. E no próximo texto, mando as respostas das referências dos filmes do curta-metragem "35 mm" (do texto anterior ao atual).



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