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sexta-feira, 11 de maio de 2012

Pai herói: sensibilidade acima de tudo

Dia das mães se aproximando, mas a minha homenagem é para os pais, na verdade para os novos pais, esses que aprenderam a chorar com seus filhos, a dar o ombro amigo, a não ter vergonha de se mostrar frágil e emotivo. A saber, para aqueles pais que, antes de serem homens, aprenderam a ser “humanos, demasiadamente humanos” (parafraseando Friedrich Nietzsche).

Porque nós, mulheres, não precisamos ser lembradas num único dia, pois participamos ativamente da vida dos nossos filhos. Já “nascemos mães” (claro que é cultural, nem todas nós temos o dom da maternidade, mas nos colocam desde cedo uma boneca nos braços, antevendo o que nos espera a vida), já os homens...

Tristes e pobres coitados dos homens que já nascem, sendo exigidos e desafiados para não terem medo, não fraquejarem, a empunharem “armas” contra emoções e sentimentos, desde meninos. “Homem não chora”. Os homens não nascem pais, se tornam pais (alguns, infelizmente, nunca saberão o que é isso, pois são meros reprodutores).

E voltando a Nietzsche, o filósofo alemão, ainda no século XIX, revira o velho e arcaico conceito das “realidades eternas e das verdades absolutas”, sugerindo a criação do que ele chamou de “espírito livre”, ou seja, o indivíduo que pensa (e age) de forma diferente do que se espera dele, insistindo que o homem precisa descobrir-se como humano. Demasiadamente humano. E sensibilidade é a sutil diferença entre ser homem e ser macho. E o belo comercial da Sprite (vídeo abaixo, ao som de "To love somebody", do Bee Gees) é o melhor exemplo disso.
Aí, em pleno século XX, entra em cena, o “filósofo” popular Raul Seixas “prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo” e, ainda assim, o homem (macho, gênero masculino) continua a se portar de acordo com os velhos preceitos dos “livros sagrados”, que pregam uma sociedade patriarcal arcaica, em que “macho não chora”, e a mulher “fruto de sua costela” deve manter-se submissa a seus desejos e caprichos.

E, ao invés de uma convivência justa e humana, estamos eternamente subjugados a uma sociedade perversa, tanto para o homem como para a mulher, que ridiculariza o homem sensível (“só pode ser gay”) e condena a mulher que faz escolhas profissionais ao invés de familiares.

E o espírito livre que tanto pregou Nietzsche? Liberdade é poder escolher ser dona de casa por opção, e não por obrigação (e não ser perseguida por feministas, ao se fazer essa opção), ou escolher ser profissional liberal e poder optar por não querer ser mãe (sem ser rotulada pelos machistas como “mal amada, fria e frígida” pela então escolha).

A minha homenagem ao pai “herói” que se faz presente na hora da troca da fralda como um ato de carinho, e não como uma possível troca de papéis, conseqüente a uma surda e detestável guerra dos sexos. Ao pai que não esquece seu papel de pai amigo e confidente (e não de "coleguinha" permissivo e servil ao filho).

Ao pai que comemora a vitória do filho no esporte da escola (mas que também, sem cobrança, o consola quando a medalha de ouro vai para o amiguinho e não para o filho querido), que sofre junto (encarando seriamente, sem deboche) com o filho homem adolescente, desolado com o namorico que se findou.

E nos incutiram a idéia de que o homem (das cavernas) é que sai “para caçar” (proventos para a casa, e de quebra, os famosos “pulos de cerca”) e a mulher é “a dona do fogão” (submissa, só entende de “esquentar a barriga no fogão e esfriar no tanque”).

E eu não poderia deixar de citar o cinema como exemplo para os meus textos. O filme “Mulheres perfeitas” ("Stepford wives"- trailer do filme no final do texto - não é nenhum filmaço, mas é "assistível" e tem a ver com o tema)  mostra como os próprios homens é que querem “as mulheres perfeitas“ de outrora, as donas de casa submissas, cumpridoras dos seus “deveres” domésticos, mas nós mulheres (que deveríamos ser as principais interessadas) não estamos nem um pouco animadas a esse retorno ao passado, pois aquelas “mulheres perfeitas”, que o filme bem retrata, só convêm aos homens.

Para nós é a imagem perfeita da mulher robótica, que não tem sentimentos, não ri, é apenas servil como qualquer estrutura cibernética. Queremos ser tratadas como seres humanos, nem melhor nem pior que os homens, com erros e acertos, raiva, alegria, solidão, tristeza, amor, compaixão, sedução.

Ao invés de nos oferecerem para abrir a porta do carro, nos ofereçam “a porta do coração”, não mais nos traindo, como as “mulheres perfeitas” aprenderam a aceitar (mas não a deixar de sofrer). Pois a dor da traição dói em nós do mesmo jeito que dói em vocês, nos fere a alma e o orgulho, nos baixa a auto-estima, assim como acontece com vocês quando traídos.

Mas para vocês as mulheres perfeitas do passado “não sofriam”, pois a traição “fazia parte do gene do macho”, “estava no sangue”, “é testosterona na veia”. Mas, na verdade, nossas mães e avós choravam escondidas as traições de seus homens, e nós aprendemos a assistir a isso, e não gostamos, e não queremos mais isso nem para nós, nem para as nossas futuras gerações de mulheres (e, por que não dizer, de homens).

Mas se é tudo “hormonal”, se o homem não nasce com o “dom da culinária” por exemplo, então o que fazem os grandes maitres que sempre são homens? (e não gays - antes que algum gaiato venha com gracinhas). Ou seja, quando convém (quando o dinheiro dita a moda) o homem “se vira nos trinta”, e aprende a arte de “servir a mesa”, e tantas outras tarefas que, segundo os machões, “fazem parte do universo feminino”.

E as mulheres, que eram consideradas “obtusas” na direção ao volante, nas empresas, nas máquinas, por que cada vez mais se sobressaem nessas áreas? A explicação é simples: não tem mágica (que “hormonal”, que nada), é só uma questão cultural e de oportunidades que, no passado, não nos era dada. A verdade é que a única diferença entre os sexos é a força física, a musculatura esquelética do homem é mais forte que a das mulheres devido a testosterona. E só.

Sou contra machismo e contra essa sociedade patriarcal que rotula papéis demarcados na sociedade para homens e mulheres, mas a questão não passa também pelo feminismo, e muito menos eu ousaria reivindicar uma nova sociedade matriarcal (existem, na atualidade, culturas em regiões da China e da Indonésia, em que as propriedades e os nomes das mulheres é que são passadas para os filhos, os homens fazem os serviços domésticos e são dominados pelas mulheres).

Há relatos da Antiguidade que, antes de Eva, Adão tinha outra mulher – há referências nos livros sagrados dos judeus, o Talmude, sobre Lilith, a mulher de Adão antes de Eva, que reivindicava direitos iguais e por isso foi literalmente “abduzida” da Bíblia cristã e demais livros sagrados. Em "Fausto", de Goethe, Mefisto apresenta Lilith como a esposa número 1 de Adão. Sua figura tem sido omitida, mas a tradição judaica, suméria e outras, ainda preservam sua história. Mesmo que omitida da própria escritura sagrada, há vestígios que comprovam sua presença no texto de Isaías, mesmo com nomes diferentes nas diversas traduções da Bíblia.

Nessa tradição. pode-se dizer que o feminino sempre foi visto como ameaçador, foi desvalorizado e demonizado. Já a literatura interessa-se, sobretudo por Lilith, "a revoltada", que na afirmação de seus direitos à liberdade e ao prazer, à igualdade em relação ao homem, "perde a si própria, assim como perde aqueles que a encontram" ("Fausto", de Goethe).

O “Código da Vinci” (o livro, não o filme – o filme deixa a desejar, perde muito do suspense do livro) é instigante e intrigante na reconstituição histórica no meio da ficção, e no final do livro, o grande questionamento sobre a origem matriarcal da humanidade que, dizem, foi usurpada pelos homens, e a partir dos textos “sagrados” da Bíblia, sacramentou-se a sociedade patriarcal e a onipotência do homem sobre a mulher. E até hoje nós, mulheres, temos que nos contentar em sermos apenas “uma costela do homem”.

O livro “Código da Vinci” tem uma leitura dinâmica, rápida e envolvente, realmente fácil de agradar a qualquer leitor, desde o suspense que há por trás da história da igreja católica ortodoxa e dos segredos que poderia mudar toda a história da Humanidade segundo o livro. Mas só porque a tiragem foi alta e a leitura agradou em cheio a vários níveis sócio-culturais, “portanto não poderia ser uma obra séria”, segundo os pseudo-intelectuais seria “um livro popular, sem créditos” (eu mesma fui criticada por familiares – não vem ao caso quem foi – que me rotulou como “pseudo-intelectual” na época por estar lendo o livro em questão). Assim aconteceu com “Cem anos de solidão” de Gabriel Garcia Marques, que também foi criticado na época do lançamento do livro, só por causa da tiragem "popular” (deveriam ficar contentes com o povo voltando-se para a leitura).

Nem patriarcal nem matriarcal, a sociedade deveria buscar seu rumo numa nova sociedade onde todo ser humano, independente do gênero, se dividisse igualmente em feminino e masculino, pois se deixássemos aflorar a natureza humana em sua totalidade, só teríamos ganhos para a humanidade, pois num mundo onde a violência independe de força física (a única diferença entre o homem e a mulher, na minha opinião), num mundo de armas e bombas nucleares, a diferença será exatamente explorar, nas novas gerações, os sentimentos, a solidariedade, a hombridade, a fraternidade, e não mais dividir o mundo em seres machos e fêmeas, “os que defendem” (os machos) e os que “são protegidos” (as fêmeas) – o grande diferencial para a paz num mundo globalizado e hiper-conectado é ensinar a se sensibilizar.

Pois num mundo violento como o nosso em que a arma de fogo substituiu a força física, cabe a nós mulheres ensinarmos a essa novíssima geração que desponta, nossos filhos, nossos netos e futuros bisnetos, a desenvolver o lado “maternal e fraternal” nos homens, pois só a sensibilidade será o grande diferencial para construir homens, no lugar de máquinas – o cérebro e o coração são regidos pelos mesmos processos tanto nos homens quanto nas mulheres, e os que entenderem isso só sairão ganhando. Não queremos o patriarcado, mas não reivindicamos o matriarcado de volta (se é que um dia existiu, ninguém conseguiu provar, mas também ninguém desmentiu até hoje).

“Há mais mistérios entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia”, portanto não me venham com teorias aparentemente confirmadas “geneticamente e hormonalmente” sobre a diferença entre homens e mulheres. No passado, a “verdade” dos grandes filósofos da Antiguidade girava em torno do geocentrismo, do criacionismo e do determinismo divino, para séculos depois, na visão da ciência moderna, Copérnico, Galileu e Newton jogarem por terra esses conceitos, passando o sol a ser o verdadeiro centro do Universo, as leis da gravidade, Darwin com sua evolução por seleção natural das espécies e o determinismo genético.

E já na virada do século XX (que agora também já ficou prá trás, quem sabe o que mais vem por aí), surge a nova visão da ciência contemporânea, do universo quântico de Einstein "explodindo" a visão heliocêntrica newtoniana, e o questionamento do próprio determinismo genético (que inspirou e validou o próprio holocausto) fez surgir o determinismo estrutural, sugerindo que não há planos, mapas ou instruções pré-formadas, e o processo evolutivo é então determinado de momento a momento no curso da história, não existindo portanto determinismos a priori, nem muito menos seleção dos mais aptos.

Assim, se não existe “uma realidade eterna nem uma verdade absoluta” nem entre os grandes estudiosos (e ainda bem que, para a ciência, não há nada pior do que a certeza), por que não questionar os “estudos sobre diferenças entre homens e mulheres"? Somos todos filhos da história, e não de genes herdados e hormônios documentados. Viva a liberdade quântica, ecológica e histórica do pensamento contemporâneo.

E para terminar, deixo a lembrança do ótimo filme “Yentl” (trailer do filme no final do texto), em que a protagonista judia (a atriz/cantora Barbra Streisand), na Polônia do início do século XX, se vê proibida de ler os livros destinados aos homens, após a morte do seu pai, o que a faz indignar-se (se travestindo de homem para poder estudar) e a questionar as limitações impostas ao seu sexo, já que em casa foi o próprio pai quem a iniciou nos estudos das escrituras sagradas do Talmude. O que nos leva a pensar sobre o papel fundamental de um mediador (e nada melhor que os pais nessa hora) na formação dos jovens, na mudança de visão desses jovens.

Porque, cada vez mais, nossos filhos precisam de  "pães", ambos os genitores nos papéis de pai e mãe, numa simbiose que só tem a enriquecer a vida dos nossos filhos. Ao som da bela e eterna música "Pai herói" (vídeo abaixo), deixo meu conselho final, para esse dia das mães em que homenageio os pais: use o coração, e não a "ciência", para educar seus filhos (principalmente nossos filhos homens). O futuro (das próximas gerações, tanto de mulheres como homens) agradece.









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