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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Luz, Câmera, Ação e... SOM.

Causa-me enorme estranheza quando ouço pessoas que dizem “nem notar” as músicas que rolam por trás de toda e qualquer cena cinematográfica, mas ... será que dá para imaginar o “Poderoso chefão” sem a música do italiano Nino Rota, a marca registrada de Don Corleone? Dá prá imaginar “Carruagens de fogo” sem a magistral música do grego Vangelis (que acabou virando tema de toda e qualquer maratona da atualidade)?

E "Psicose", de Hitchcock, não teria o mesmo apelo dramático e de suspense se não tivesse a clássica música que marcou para sempre a cena do chuveiro na história do cinema. E o clima futurista e sombrio de Los Angeles, sem sol e com sua chuva ácida, também se perderia sem a música de Vangelis, em "Blade runner, o caçador de andróides"(leia sobre esse filme, no blog, na "lista de filmes").

Abaixo, assista o vídeo com a divertida performance de músicos instrumentistas de uma das mais famosas músicas de filme de faroeste (no caso, o filme "O dólar furado", com o ator italiano Giuliano Gemma), que marcou a história do cinema.



E como Sansão sem os cabelos, Rock Balboa perderia toda sua "força" sem a música "Gonna fly now", que virou símbolo de desafio e conquista.  E a cena final antológica de “Cinema Paradiso” provavelmente perderia metade da comoção sem a música do italiano Ennio Morricone.

O que seria desses grandes filmes se não houvesse por trás deles o som magnífico desses grandes compositores? No cinema, só imagem causaria,
com certeza, estranhamento e desconforto assistir a uma projeção completamente muda, a não ser que fosse por “interesse histórico”.

Especialistas em audiovisual explicam que pessoas que não percebem a musicalidade por trás de uma cena cinematográfica não têm afinidade com música, e pouco conhece (ou se interessa por) ritmos, estilos, gêneros e danças.

Mas mesmo essas pessoas perceberiam a diferença se fosse retirado o som e a música dessas cenas. A imagem, qualquer que seja ela, não sobrevive sem som, fica enfadonho, a atenção à tela se esvai quando não se tem som. Pois o cinema nunca foi "totalmente" mudo, sempre teve som, mesmo nos filmes ditos mudos havia sons, em geral música incidental ou de fundo. Só não havia ainda, na época do cinema mudo, um método eficiente de sincronizar o som à imagem.

O sistema de sonorização no cinema surgiu no século XX na década de 20, com o advento de uma enorme geringonça, o famoso “vitaphone”, que tinha acoplado ao projetor uma vitrola que sincronizava o filme a um disco de 33 rotações por minuto – considerada uma revolução para a época, já que o padrão eram os discos de 78 rpm feitos de um material denominado “goma-laca” (antes da “era vinil”), tocado em gramofones, que cabia apenas uma única música – e o próprio projetor reproduziria ao mesmo tempo a imagem e o som.

E assim foi lançado o filme “The jazz singer”, pioneiro com a “nova tecnologia” em 1927, foi o primeiro filme sonoro do cinema revolucionando a indústria cinematográfica, sincronizando pela primeira vez a voz do ator com a música no filme. Al Jolson era um famoso cantor de jazz da época e fez o papel do ator principal do filme, sendo o primeiro a falar e cantar com a sua voz gravada em banda sonora sincronizada (veja no final do texto).

No filme, o cantor utiliza um tipo de espetáculo teatral tipicamente americano do início do século, que reunia quadros cômicos com dança e música, com artistas brancos maquiados como negros e com tinta branca em torno dos lábios e dos olhos, que combinava com luvas e meias também brancas, contrastando claro e escuro nos espetáculos, que produziam um divertido efeito cênico. Trinta anos depois era a vez do ator e comediante Jerry Lewis protagonizar e repetir o sucesso do filme,

e o nosso Grande Otelo também “embarcou” nesse filão e fez sucesso com sua “boneca de piche”, música de Ary Barroso (veja no final do texto). Essa apresentação tipo “black face” era conhecida na América como “Minstrel show” (veja, no final do texto, trailer do documentário "Al Jolson and The jazz singer", realizado em 2009), e com o tempo (e as lutas dos negros americanos por igualdade de direitos) passou a ser considerada de cunho racista, principalmente porque os personagens "negros" eram sempre estilizados como preguiçosos, ignorantes e falastrões.

E para comprovar que o cinema pode até existir sem imagem, mas jamais sem som, o cineasta britânico Derek Jarman produziu, em 1993, o filme "Blue", num experimento pioneiro, um filme cuja proposta audiovisual tem um resultado final no mínimo instigante. Nele o diretor propôs um filme tendo como única imagem uma tela completamente azul, desenvolvendo a narrativa apenas por meio da trilha sonora. Assim, o som é dado como único elemento narrativo do filme, e é o espectador, em sua subjetividade, que projeta as imagens a partir da narrativa sonora.

Trata-se de uma espécie de relato das experiências e reflexões do autor, o próprio cineasta, enquanto homossexual e aidético em fase terminal. Ao longo de mais de sessenta minutos, a única perspectiva visual é uma tela monocromática azul. Tal estaticidade visual confere à trilha sonora toda função narrativa, seja pelos diálogos (na verdade praticamente monólogo) ou pelos sons e ruídos.

"Blue" conta a história do próprio cineasta que, desprendendo-se da dependência das imagens, desenvolveu sua idéia de fazer um filme sobre sua própria luta contra a AIDS em seu estado terminal (e já cego), representado apenas através de sons e de uma trilha musical que transpõe o seu estado interior. Como o único elemento visual no decorrer do filme é a tela completamente azul, são os elementos sonoros que dão dinâmica ao filme.

Dentro da proposta de Derek Jarman, seu filme não é para ser escutado e sim para ser visto (caso contrário poderia ser considerado uma espécie de narrativa "radialística", o que realmente não é), assim o autor usa a tela azul desejando evocar ou expressar um sentimento sublime, relacionado ao azul do céu ou do mar, sugerindo que o telespectador se concentre no azul da tela enquanto percebe os sons e a musicalidade do seu filme (veja no final do texto).

A tela azul remete a cegueira experimentada pelo cineasta e denota a idéia da "cegueira" do mundo em relação à condição do personagem, homossexual, soro positivo, que está morrendo por complicações da AIDS. Além disso, a não exposição ao visual, ou melhor, a exposição visual a uma tela azul (sempre de um só tom de azul) leva o espectador a um tipo de escuta diferenciado.

Jarman conseguiu ao mesmo tempo realizar uma experiência sonora (e visual) diferente e inovadora. Sons e palavras conseguem retratar a agonia de um doente em fase terminal e que só lhe resta tentar achar um sentido para a sua morte. Uma trilha sonora que acaba prendendo a atenção do telespectador e os levando a campos do imaginário nunca antes conseguido. Jarman faleceu um ano após a conclusão do filme.

O crítico de cinema e compositor de música concreta Michel Chion é certamente um dos teóricos que mais estudou sobre as relações entre som e imagem. Escreveu uma série de livros sobre esse assunto, sendo um dos mais  importantes “La Musique au Cinema”. Como afirma Chion: “Durante a fruição de um filme, existe uma mistura dos elementos visuais e sonoros que resultam no filme, num conjunto, sendo muito difícil assistir e discernir, simultaneamente, qual parte é qual, principalmente quando se está tendo um primeiro contato com a obra, de tal forma que, raríssimas vezes, levamos em conta o sonoro especificamente”.

“Musicalizar-se” é preciso, pois a música e a dança são capazes de preencher o vazio das almas. A música atua praticamente como testemunha viva, cuja função é despertar ou intensificar lembranças de qualquer natureza. Nos dias de hoje pode-se dizer que a trilha sonora é essencial para a compreensão e desenvolvimento de um filme.

Aguçar o ouvido e refinar a natural sensibilidade musical é preciso. E para isso, nada melhor que começar com “Rapsody in blue” do famoso compositor estadunidense George Gershwin, que Woody Allen usa magistralmente na abertura de “Manhattan” (veja no final do texto, e leia sobre esse ótimo filme no blog, na "lista de filmes" do Woody Allen),

ou então fique com a música divina do compositor italiano Ennio Morricone, no inesquecível filme “Era uma vez na América” (“Once upon a time in America”) com Robert de Niro, James Woods, Joe Pesci, Elizabeth McGovern e Jennifer Connelly ainda bem menina. 

Abaixo, veja como a música pode ser a personagem principal, na performance mímica de um ator comediante (no caso, a música "Fico assim sem você" da Adriana Calcanhoto).























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