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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Cinema europeu: uma "pincelada" para começar

Costumo dizer que o cinema nasceu na França, migrou ainda “jovem” para a América, e ao voltar para a Europa já havia se tornado “adulto”, livre dos preconceitos e das inseguranças da adolescência, assumindo os riscos e crises existenciais da vida adulta.

O prêmio maior da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, em Los Angeles, na Califórnia (mais conhecido como “Oscar”), é votado por um colégio de mais de 5000 membros da academia de diversas nacionalidades. Tornam-se eleitores do Oscar todos aqueles profissionais de cinema que tenham ao menos sido indicados uma vez para alguns de seus prêmios. Entre os poucos brasileiros habilitados para votarem estão a atriz Fernanda Montenegro e os cineastas Walter Salles, Bruno Barreto e Fernando Meireles.

O cinema americano ainda é muito “adolescente”, ou seja, ou é muito consumista, muito “comercial”, cheio de clichês (os famosos “enlatados”, voltados para a “massa não pensante”), ou então é muito megalomaníaco e hollywoodiano, e extremamente “Oscarizado”, ou seja, voltado para agradar aos membros do júri do Oscar (claro que não é a regra, e há muitas exceções), com temas sempre politicamente corretos, e de preferência pró-americanos.

Diferente do cinema americano, o cinema europeu tem uma visão mais adulta e madura do mundo, tratando temas diversos, sejam eles  politicamente correto ou não, retratando a vida como ela é, seja ela “feia ou bonita”. O cinema europeu é também sempre muito minucioso e cuidadoso na criação dos seus personagens, muitas vezes a câmara é lenta, como se quisesse focar o íntimo e a alma dos personagens.

Às vezes, no cinema europeu, há poucos diálogos, com tomadas de cenas longas, levando o espectador a se envolver com o íntimo dos personagens, através do seu silêncio e de seus poucos gestos - por isso talvez o cinema europeu não seja para muitos, pois não agrada facilmente, o mundo globalizado quer ação, explosão e pirotecnias, e não pode parar, como o cinema europeu, prá se envolver com a delicadeza dos gestos, com um olhar penetrante ou com um sorriso enigmático.

O cinema europeu em geral já se livrou dos clichês e do politicamente correto, e expõe sem preconceitos temas pesados, muitas vezes difíceis de digerir, como os filmes dos grandes cineastas espanhóis (veja no texto “Almodóvar” na lista de filmes, aqui no blog), dos cineastas italianos como Bernardo Bertolucci, Vitorio de Sicca, Michelangelo Antonioni, Frederico Fellini (vou dedicar um futuro texto só para esses grandes mestres italianos) – temas como pederastia, incesto, e outros temas pesados são sempre abordados com um foco sem preconceitos – apenas se mostra e se expõe personagens da vida real sem se preocupar se politicamente correto ou não - o espectador é que tira a sua própria conclusão sobre o que vai assistir.

Como não dá prá falar de todos, segue abaixo uma pequena lista dos muitos dos excelentes filmes, do passado e do presente (deixo, com já disse, os italianos para um futuro próximo, e também dedicarei um texto a parte ao cinema grego, e os alemães já se encontram bem representados, aqui no blog, na lista de filmes, com “Adeus Lênin”, “A vida dos outros “ e “A experiência”, enquanto o cinema do sueco Ingmar Bergman merece um texto só para ele):

“Paris,Texas, de 1984, é um drama franco-germânico, porém filmado nos EUA, dirigido pelo cineasta alemão Wim Wenders, o mesmo de “Buena Vista Social Club” (veja na lista de filmes “Musicais imperdíveis”) – aqui também o músico Ry Cooder responde pelos temas musicais e apresenta um solo de guitarra (baseado no belo blues “Dark was the night cold was the ground” de Blind Willie Johnson - ouça, no final do texto, literalmente, o "lamento" na guitarra e na voz do músico) que dá o tom melancólico ao filme e é a marca registrada da película.



O filme é um cult e serviu de inspiração para muitos. Por exemplo, uma das muitas curiosidades é a influência do mesmo na concepção do álbum “Joshua tree” do grupo U2 que, segundo o vocalista do grupo, Bono Vox, foi inspirado nesse filme, onde as paisagens desérticas de “Paris, Texas” está claramente refletida nas letras das músicas, assim como nas fotos do álbum (“Joshua tree” é uma espécie de cactus de um deserto da Califórnia que está praticamente extinto) - veja no final do texto uma das músicas do álbum.

"Paris/Texas" conta a história de um homem que, depois de estar desaparecido por anos, é reencontrado pelo irmão numa região desértica do Texas (Paris aqui nada mais é que uma pequena cidade do Texas), próximo à fronteira com o México. Maltrapilho e com amnésia reencontra o filho de sete anos que foi abandonado pela mãe (a bela atriz alemã Natassja kinski). E pai e filho se reaproximam em torno do mesmo desejo de reencontrar a mulher de suas vidas, que será cercado de surpresas e decepções. "Paris, Texas" é notável pelos seus enquadramentos, a fotografia desértica traduz a solidão e o olhar perdido daquele homem em busca de sua identidade.

“Desde que Otar partiu” é um filme francês, singelo, mas muito interessante, sutil na abordagem de temas políticos e sociais da história da antiga URSS, contada através de três mulheres de diferentes gerações (uma mãe, uma filha e uma neta) que vivem juntas na capital da Geórgia, na fronteira da Europa com a Ásia, às voltas com as notícias e cartas do tal Otar do título, um médico da família que foi tentar a vida na bela cidade–luz, Paris. Como é bem comum nos filmes europeus, o ritmo é lento e há pouco diálogo, mas o filme provoca reflexões interessantes, como as relações familiares, os conflitos de gerações e as diferentes formas que as pessoas escolhem para enfrentar suas dificuldades. Um belo filme.

“A festa de Babete” é um  filme dinamarquês que conta a história de uma misteriosa refugiada da guerra civil na França que  chega a um vilarejo na Dinamarca e começa a trabalhar na casa das filhas de um devoto pastor protestante que prega a salvação através da renúncia aos prazeres terrenos para se alcançar os céus. As irmãs sacrificam suas paixões da juventude em nome da fé e das obrigações religiosas, e mesmo muitos anos depois da morte do pai, elas mantêm vivos seus ensinamentos entre os habitantes da cidade. E Babete quebra esse “jejum religioso” oferecendo um luxuoso jantar francês para os humildes moradores, contrapondo a noção de pecado com a idéia de que a felicidade e o prazer podem representar um desabrochar da alma, num prazer sem culpa.

“A leste de Bucareste” é um filme romeno que aproveita o tema da comemoraçção dos  16 anos da queda do ditador Nicolae Ceausescu, para realizar um filme com um humor sutil, aliado à crítica política num filme inteligente e cheio de ironia. O produtor de um programa de entrevistas da televisão de uma pequena cidade na Romênia quer saber se a derrubada de Ceaucescu foi causada pela mobilização popular ou se esta só aconteceu depois da fuga do ditador, e assim convida, na época do natal, um velho aposentado e um professor de história para um debate ao vivo. O cenário, em tempo quase integral, é o estúdio de uma TV onde o programa, com participantes e linha aberta aos espectadores, debate o assunto de “transcendental importância”.

“A filha de Ryan” é um filme britânico de 1970 do gênero drama, dirigido por David Lean (o mesmo de "A ponte do Rio Kwai", "Dr Jivago" e "Passagem para a Índia"). O filme passa-se numa pequena aldeia da Irlanda, durante a primeira guerra mundial. A filha de Ryan é uma mulher casada com um pacato professor da aldeia, mas que não consegue desistir da sua avassaladora paixão por um atraente oficial inglês, e assim é vista com maus olhos pelos preconceituosos moradores do pequeno vilarejo.

Antecipo aqui nesse texto um sucesso do cinema italiano, do diretor italiano Gabriele Salvatore. Vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro de 1992, o filme “Mediterrâneo” conta a história de oito soldados italianos que, durante a 2ª Guerra Mundial, são deixados em uma ilha, aparentemente vazia, em pleno mar grego, com a missão de defender o lugar contra uma possível invasão inimiga.

Porém, a ilha não está deserta e quando os habitantes do local percebem que os soldados italianos são inofensivos, saem de seus esconderijos nas montanhas para dar seqüência às suas pacíficas vidas, e os soldados esquecidos da guerra vão aprender muito mais que bombas e estilhaços com os habitantes daquela paradisíaca ilha. “Mediterrâneo” é um belo filme carregado de paixão pela vida, com uma mistura de humor, belas fotografias e uma ótima trilha sonora. Imperdível.














2 comentários:

  1. Já estou com saudade das suas crônicas.
    Favor matar a minha saudade.
    Beijos,
    Abelha

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  2. Adorável anarquista,
    Você está nos roubando do prazer de ler os seus textos.
    Recebi pessoalmente um aviso de novo texto mas não o estou encontrando aqui.
    Você não pode fazer isso com os seus leitores.
    Cativou...é responsável.
    Beijos,
    Abelha

    ResponderExcluir

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