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sábado, 12 de março de 2011

Títulos de filmes: uma comédia a parte

Das inúmeras curiosidades do cinema, uma interessante é sobre os títulos dos filmes, sejam eles originais em inglês ou as versões em português (do Brasil e principalmente de Portugal) – às vezes soam estranhos, parecendo nada ter a ver com o enredo do filme, e muitas vezes soam hilários, num desencontro total, fugindo completamente da temática do filme.

Alguns títulos em inglês, como o esquisito “I Know what you did last summer” (baseado num livro homônimo), são uma comédia a parte (apesar de tratar-se, na verdade, de um suspense), e suas continuações então, nem se fala (“Eu ainda sei o que vocês fizeram no verão passado” e “Eu sempre vou saber o que vocês fizeram no verão passado”).

Por vezes, o título original em inglês parece estranho à primeira vista, como por exemplo, no filme “What’s eating Gilbert Grape”. Ao “pé da letra”, a tradução seria “O que está comendo Gilbert Grape”, sem nenhum sentido para o filme, mas na verdade parece tratar-se de uma espécie de expressão idiomática (ou seria uma gíria popular) que significaria “O que está havendo, Gilbert Grape”.

No Brasil, o título mudou para “Gilbert Grape: aprendiz de sonhador” (em Portugal foi mantido o título original) e condiz com a história de um rapaz, o tal Gilbert Grape do título (papel do ator Johnny Depp), às voltas com seus sonhos – sonhos estes limitados pela sua complicada família, uma mãe com obesidade mórbida e um irmão deficiente mental (o ator Leonardo DiCaprio, ainda bem menino, num papel bastante convincente) – já comentei sobre esse ótimo filme, no texto sobre a biografia cinematográfica de ”Ed Wood”(também com o ator “camaleão” Johnny Depp) – veja na lista de filmes no blog.

Assim, antes de criticar (e zoar) títulos de filmes, principalmente aqueles na versão portuguesa dos nossos irmãos da “terrinha”, é bom lembrar que, de repente, quem sabe o título bizarro pode ser uma expressão idiomática de Portugal que desconhecemos, pois sabemos que, apesar de praticamente falarmos a mesma língua, muitas palavras têm significado totalmente diferente na terra dos lusitanos. Por exemplo, um adolescente por lá é “um puto”, camisinha é “durex”, injeção é “pica”, e um grupo de crianças é chamado de “canalhas”. Assim, a confusão está armada (e com certeza, a “zoação”). 

A divertida entrevista do cantor português Roberto Leal no Jô Soares ilustra bem essas curiosidades e peculiaridades da língua lusitana em comparação com a nossa.

Assim é que muitas das versões lusitanas de títulos de filmes soam extremamente engraçados para nós, brasileiros. Por exemplo, a comédia romântica "Just Married", que aqui virou "Recém casados", lá na terrinha virou o hilário "Casados de fresco".  Já o premiadíssimo "Touro Indomável" (“Raging Bull”) de Martin Scorcese, em Portugal ganhou o título de “O touro enraivecido”.

O filme “Where the Wild Things Are”, de Spike Jonze, ganhou no Brasil o título “Onde Vivem os Monstros”, já na terrinha você vai ter que pedir na locadora pelo nome de “O Sítio das Coisas Selvagens”. Engraçado também ficou “Inglourious Basterds” (“Bastardos Inglórios”, no Brasil), de Quentin Tarantino, pois na língua lusitana virou “Sacanas Sem Lei” e, detalhe, com o subtítulo “uma infame, desvairada e empolgante jornada de vingança” – todos esses filmes já foram comentados aqui no blog (veja na lista de filmes).

O filme “Ordinary people” ganhou o título, no Brasil, de “Gente como a gente”, mas em Portugal chama-se “Gente vulgar” – primeiro filme sob a direção do ator galã Robert Redford, ganhou o Oscar de melhor filme na época, na década de 80 (veja no final do texto), e conta a comovente história de uma família marcada por um acidente, que vitimou um dos filhos, e um dos irmãos se sente responsável pela tragédia, e têm a mãe como um alicerce para a sustentação emocional da família – para nós, apesar da palavra “vulgar’ poder até significar “simples, popular”, na verdade soa muito mais como “algo desprezível, baixo, reles”, o que não condiz com o tema do filme, assim o título em Portugal parece equivocado, a não ser que o termo “vulgar” na terrinha tenha um significado diferente do nosso.

Já no Brasil, a comédia de produção independente que virou um Cult, de nome “Dow by Law”, do aclamado diretor Jim Jarmusch (do também cultuado “Estranhos no paraíso”e “Sobre café e cigarros”), recebeu o nome “abrasileirado” de “Daunbailó”(nada mais nada menos que a reprodução fonética do título em inglês) – já pensou se a moda pega? – o título esdrúxulo parece, no entanto, combinar com a irreverência do filme, todo em preto e branco, sobre a história de três personagens, dois americanos (na verdade não são atores, são compositores, e as ótimas músicas do filme são deles) que vivem aquém do sonho americano, e um estrangeiro (o ator italiano Roberto Begnini, de “A vida é bela”) que, com apenas um inglês bem básico, bem chinfrim, tem grande dificuldade de se expressar na língua inglesa (para isso usa um hilário caderninho de piadas para “se socializar”).

Os três se conhecem quando se vêem condenados a prisão, e têm que se unir para sobreviver, e planejam assim a fuga da cadeia (que na verdade nem é mostrada em detalhes). A fotografia do filme (uma Nova Orleans suja, às margens do rio Mississipi, retratada longe do circuito do jazz e do blues, e os pântanos do estado da Luisiana), embaladas pela ótima trilha sonora, é um show a parte.

E o filme tem cenas em longas tomadas (característica do diretor independente Jim Jarmush), para mostrar a decadência e passividade dos seus personagens à margem da sociedade. E o fime diverte na maioria das vezes. Durante uma cena em que os detentos começam a gritar nas celas, o italiano Begnini lança mão de seu caderninho e cria, no seu inglês sofrível, um verso com um jogo de palavras (talvez por isso também o título abrasileirado do filme): “I scream, you scream, we all scream for ice cream”, frase esta que passa a ser quase um “hino-desabafo” na prisão, desarmando as caras amarradas de seus novos amigos americanos (veja no final do texto).

E, voltando aos títulos, tinha aquela velha brincadeira de mímica da nossa infância “Adivinhe o nome do filme”, em que inventávamos títulos surreais como “Incêndio na caixa d’água”, “Poeira em alto mar”, “A volta dos que não foram” e “As longas tranças do careca”.

E corre solto na internet as piadas em torno dessa brincadeira de criança: O Hulk caiu sentado numa churrasqueira em brasa. Qual o nome do filme? “Tomates verdes fritos”. O Lula encontra o Vincentinho na cama com a mulher dele. Qual o nome do filme? “O que é isso, companheiro?” (aproveitem e vejam, no final do texto, trailer desses dois ótimos filmes).

Quanto às versões lusitanas, ainda persiste aquela velha fama dos portugueses, que todos conhecem – de que, em Portugal, nem é preciso ir ao cinema, pois já se conhece a história só pelo título – por exemplo, se o título no Brasil for “Quem matou fulano de tal?”, o mesmo filme terá, na “terrinha”, como título (ou subtítulo) o nome “Foi o mordomo”.

E continuando a “zoação” com os irmãos europeus, que sempre rola solta na internet: “Titanic” viraria “Vai batere em um pedaço de gelo e afundare”. “Ghost, do outro lado da vida” seria “O gajo demorou para entendere que já havia morrido”. O filme “A Era do Gelo” passaria a ser chamado “No tempo em que era frio prá cacete”. “Treze dias que abalaram o mundo" seria “Faltou pouco para todo mundo ir prá casa do cacete”. “A Fuga das Galinhas” viraria “As penosas não queriam ir para a panela”. “Todo Mundo em Pânico" viraria “Corre todo mundo que vai dar cagada” e “O Exorcista” seria “O gajo manda o capeta para o inferno”, e por aí vai a gozação. 












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