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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Redes Sociais: "tô fora, não me add, please.

“Oh, captain! My captain!” Prá quem não conhece, essa frase marcou a cena antológica do filme “Sociedade dos poetas mortos”, e a expressão “Carpe diem” caiu na boca de toda uma geração, numa clarividente celebração à vida. Era a virada dos anos 80/90, e no filme, passado no final da década de 50, jovens estudantes de uma rígida e conservadora escola americana transgridem as regras, incentivados sutilmente por um professor de literatura (papel de Robin Williams), que os instiga a pensarem por si mesmos. E assim, os jovens estudantes sorrateiramente se reúnem numa caverna para um “motim” social e de conhecimentos, num misto de coragem e ousadia, com os corações carregados de sentimentos, emoção e poesia, num questionamento de vida e de auto-afirmação (veja trailer desse belo filme, no final do texto).

Hoje, os jovens da geração Y (ou Z, ou geração digital e tantas outras enigmáticas denominações) se reúnem em mídias, salas de chats e redes sociais virtuais – nada contra, se não fosse a pobreza cultural e total falta de conteúdo dessas redes (segundo o escritor e cronista Ziraldo, o "chat" leva esse nome porque "só tem chatos nessas salas virtuais"). Mas, o que houve com essa nova geração, por que tão alienada ficou? Nada questionam? Não têm nenhuma bandeira a levantar??

Há muito venho me questionando: o que faz todo esse povo nessas redes sociais? Qual a graça de ficar atrás de um teclado, horas e horas.... apenas bisbilhotando a vida alheia? Ou será que há vida inteligente nesse “planeta virtual”?? 

Assim, resolvi entrar em algumas delas e “pagar prá ver”, pois para criticar é preciso ter “conhecimento de causa” – meu objetivo era render um novo texto pro meu blog, em resposta às minhas indagações, e quem sabe, eu estivesse equivocada... – tenho o blog como minha redenção (quando quero “abrir o verbo”, mesmo que eu não vá ser lida), já o e-mail é o mais prático dos “correios” que conheço, e o “msn” me serve para ocasionais papos à distância (muita distância, diga-se de passagem, mais para contatos internacionais, pelo custo, pois dentro do Brasil ainda sou mais o bom e velho “Gran Bell”, pois nada como poder falar e responder “na bucha”, teclar um pensamento e aguardar retorno é um saco, é o “ó do borogodó”). Quanto a essas redes sociais, sinceramente, sempre fiquei intrigada, pois não consigo ver graça nenhuma nessa forma de comunicação e relacionamento.

Assim, entrei na rede, e prá variar, fiz o que todo mundo faz, bisbilhotei a vida alheia (não achei nada interessante prá fazer lá), e quando "dei por mim", estava na página do amigo do amigo do amigo – e toma de fotos com dizeres: “Lindo”, e você olha a foto do fulano com uma cara de “Deus me livre”. Mais um comentário, agora para uma fulana: “Você está muito bem”, só que a fulana parece um “maracujá de gaveta” e mal vestida que só ela. E não pude evitar, imediatamente pensei: “Santa falsidade, Batman”. Me fez lembrar aquelas atendentes de loja que, quando querem empurrar a mercadoria de qualquer jeito, dizem “você ficou ótima” e você no espelho constata o horror que ficou a roupa. E querem me fazer acreditar que as fotos e recados podem ser bloqueados, só dando acesso para os amigos "mais chegados" – sim, mas não esquecer que o seu amigo íntimo é também amigo íntimo de outro alguém e assim por diante, e foi assim que tive acesso (como sei de muitos que assim o fazem, o famoso “jeitinho brasileiro”, com a senha do amigo do amigo) a muita informação e fotos ditas "bloqueadas".

O perigo da exposição pública sem nenhum controle do indivíduo (que acha que vai ter sua privacidade garantida) é bem mostrado nos vídeo informativo e alertadores abaixo.

Para tentar entender o processo, antes de qualquer coisa, não devemos confundir mídias sociais com redes sociais. O YouTube, por exemplo, é uma mídia social. O Orkut e o Facebook são redes sociais. As redes sociais podem operar em diferentes níveis, como, por exemplo, redes de relacionamentos (Facebook, Orkut, Myspace,Twitter), redes profissionais (Linkedin), redes comunitárias (redes sociais em bairros ou cidades), redes políticas, dentre outras.

Afinal, o que rola nessas redes de relacionamentos tipo Orkut e Facebook??  Cultura, educação, troca de conhecimentos, como no filme “Sociedade dos poetas mortos??? Nada disso. 

Segundo estudiosos, 
o que menos rola é cultura no Orkut (sem falar nos crassos erros de português), e há muito pouca transação comercial ou profissional. O que não falta no entanto é pirataria, pedofilia explícita, manifestações de racismo, e torcidas organizadas (leia-se gangs) de futebol se confrontando virtualmente, além dos perfis “fakes” usados para vasculhar a vida alheia, inclusive para difamação de pessoas. E tem gente mal informada que acha mais seguro o site de relacionamento que os e-mails, mas o Orkut já foi, por várias vezes, invadido por hackers, com vírus roubando comunidades e dados pessoais de milhares de pessoas da rede.

O Orkut é vinculado ao Google e foi criado por um engenheiro turco, visando o público estadunidense, mas não emplacou por lá (segundo a Wikipédia, apenas 2,2% dos norte-americanos são usuários da rede), já o Brasil e a Índia bateram o recorde de adesão (48% e 39% respectivamente). Os EUA lideram no Facebook.

Qual a explicação para tal fato? Segundo estudiosos desses fenômenos virtuais, o brasileiro dá muita importância para o número de “amigos”. Sendo o Brasil um país culturalmente gregário, é natural que o Orkut tenha crescido de forma exponencial aqui (e também na India).

O Orkut funciona como um “medidor de popularidade”, já o Facebook tendo nascido em um país muito mais individualista (EUA) visa o indivíduo, não o grupo. Fãs, no Facebook, só para as páginas de empresas. Quem tem fã no Facebook é marca, artista ou empresa, não pessoas comuns, simples mortais, é apenas uma rede social, não um “popularômetro” como o Orkut, tipicamente adaptado ä cultura brasileira.

No Orkut, todo mundo é uma estrela – todos têm fãs - chegando ao cúmulo (vício ou "nóia"??) de pessoas acumularem mais de “mil fãs ou amigos”, pode??? – só se for a “Marylin Monroe ou o Brad Pitt dos pobres de espírito”, porque um simples mortal jamais conseguirá colecionar tanto “amigo” – alguém, por favor, venha em meu auxílio – em toda a nossa vida acadêmica, em nossa vizinhança, em nossa turma de academia, alguém já conseguiu juntar mais de 100 amigos???? Claro que não. Que dirá mil. Ora, me poupe.

Uma desculpa esfarrapada é: “no Orkut encontramos os velhos e antigos (amores e) amigos da escola”. Em geral, “os encontros” não passam do virtual, qual a graça disso? A verdade é que a maioria quer mesmo é bisbilhotar se o “dito cujo se deu bem ou não na vida”. Ora, num passado recente, adolescentes, nos reuníamos (ou nos fazíamos cúmplices) em torno de, no máximo, uns poucos amigos, como no “Clube dos cinco” (título original do filme “The breakfast Club” com Molly Ringwald e Judd Nelson – assista abaixo, na MTV, a música “Don’t you forget about you” da banda escocesa Simple minds, com os atores na platéia, 20 anos depois) ou já adultos, nos encontrávamos “ao vivo” para comemorar “O primeiro ano do resto de nossas vidas” (título original “St’Elmo’s fire”, com Demi Moore, Rob Lowe, Andie MacDowell e Andrew McCarthy),

ou então marcávamos “O Reencontro” (o filme, cujo título original “The big chill”, tem músicas eternas do grupo “The Temptations” dos anos 60, com suas coreografias “mUderníssimas” para a época), ou nos encontrávamos pela última vez para guardarmos aquele momento como lembrança “Para o resto de nossas vidas” (título original “Peter’s friends” com Emma Thompson e Stephen Fry, com ótimas músicas como "You're my best friend" na voz de Fred Mercury do Queen) – veja trailer desses ótimos filmes no final do texto.

E voltando ao famigerado “Orkut da vida”... e o nº de fotos que essas pessoas postam no seu perfil?? Tem gente com mais de mil fotos registradas... Agora me digam, o que o(a) fulano(a) faz na vida, além de colecionar milhares de fotos e pseudo-amigos?? Provavelmente nada, porque não haveria tempo prá mais nada, concordam? E valha-me Deus, a pergunta que não quer calar, alguém me responda, quem é que tem tempo (e saco) prá ver mil fotos de “um João ou uma Maria ninguém”?? Acho que nem a p...(ops) a pessoa que o(a) pariu.

Mas o que realmente rola no Orkut é um “Big Brother” virtual, um verdadeiro “reality show”, onde invariavelmente todos estão (e muitos parecem querer estar) expostos, com todos os riscos desse tipo de exposição (veja vídeo no final do texto). E a baixaria é explícita, é um tal de fulano descobrir que está sendo traído pela beltrana, buchicho “confirmado” por sicrana, que na verdade “tá a fim” do tal fulano. Parece a “casa da mãe Joana”. O ato de bisbilhotar a vida de estranhos, caracterizada no Orkut como “acompanhar fotos e recados de (ou quase) desconhecidos” é típico da contemporaneidade, onde há um crescente culto às personalidades, sejam elas famosas ou anônimas. O artista plástico Andy Warhol, com sua famosa (e hoje desgastada) frase “no futuro todos serão famosos por 15 minutos”, só errou no tempo, pois hoje são 15 segundos de “fama” e olhe lá.

O cinema, prá variar, já correu atrás da novidade e botou “a rede” no telão - o filme “A rede social”, que concorre entre outras categorias ao Oscar de melhor filme, revela os sórdidos bastidores da real criação do “Facebook” e (fazendo jus a baixaria desses sites de relacionamento) o que rola é justamente traições, denúncias, bilhões de dólares e gente calhorda – o filme associa o início do Facebook a uma série de traições entre “amigos” e retrata a trajetória de Mark Zuckerberg, quando ainda estudante da Universidade Harvard (agora um multimilionário de 26 anos graças ao sucesso do Facebook), como uma espécie de anti-herói em busca de aceitação social.

Após a criação do Facebook, Zuckerberg foi acusado de apropriar-se da idéia da rede social, uma causa que terminou com um acordo extrajudicial. Para quem não conhece a história, os idealizadores originais da rede social pediram ajuda a Zuckerberg para elaborar a parte de programação, que eles não dominavam. Ao ter contato com a idéia, ele abandonou os idealizadores originais, chamou o brasileiro Eduardo Saverin (então seu colega de faculdade em Harvard) para seu colaborador e criou sua própria rede, o Facebook, copiando praticamente toda a idéia.

Segundo o livro “The accidental billionaires – a tale of sex, money, genius and betrayal” escrito por Ben Mezrich  que conta a história da rede social e cujos direitos foram comprados para o filme “The Social Network”, o brasileiro Eduardo Saverin teve grande importância na criação da empresa, e só foi reconhecido como co-fundador do famoso site através de uma decisão judicial (ao que parece, Zuckerberg também pretendia “passar a perna” no brasileiro).

Mas parece que não sou a única a ter reticências em relação a esses sites de relacionamentos – o gaúcho Evandro Berlesi do projeto “Alvoroço nas escolas” (um projeto da cidade de Alvorada, uma das mais violentas do Rio Grande do Sul, que visa inclusão social dos alunos carentes das escolas públicas, com oficinas de teatro e cinema) em parceria com a prefeitura daquela cidade está envolvido no projeto do filme “Eu odeio o Orkut” (adaptação do livro do próprio Berlesi, lançado há dois anos) que tem estréia marcada agora para março com Luana Piovanni no elenco ( veja abaixo, o autor no “Pânico na TV” esculachando o Orkut).

Para terminar (ufa), um estudo foi divulgado recentemente pela revista americana “Seventeen”, feito com cerca de 10.000 jovens entre 16 e 21 anos. De acordo com a pesquisa, 79% dos entrevistados tentam um contato com seus “pretendentes” uma semana após encontrá-los nos sites de relacionamentos. Já 60% revelaram que espiam o perfil “do alvo” ao menos uma vez ao dia; os demais 40% o faz várias vezes ao dia. O mais curioso talvez ocorra nos casos de relacionamentos desfeitos: 27% dos jovens bloqueiam (ou apagam) o contato do ex após o fim do namoro, enquanto 73% dos usuários “mal-amados” mantêm o desafeto na lista, apenas para bisbilhotar anonimamente (ou não) o que o(a) ex está fazendo, com quem anda, etc. E mais: 17% dos garotos e 12% das garotas escondem seu status de relacionamento nas redes sociais.

É muita gente vazia, aculturada e sem o que fazer – Sinceridade??? Sai do mundo virtual, sai da frente do teclado e venha pro mundo real, leia um bom livro, escute uma boa música, assista a um bom filme (aproveite as dicas desse texto e do blog), vá a um bom show e depois “estique” num bar com os seus poucos, mas verdadeiros, amigos e... “Carpe diem”.

Em tempo: ... e prá quem corre atrás do passado, na ilusão de revivê-lo, veja no vídeo abaixo (ao som de “La vie en rose”, na bela voz de Edith Piaf), o risco que poderá estar correndo..., melhor deixar o passado no lugar dele, ou seja, nos doces recantos da memória.














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