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terça-feira, 10 de novembro de 2009

"Magnólia", o filme

"Magnólia" é um filme totalmente inusitado em sua proposta de entrelaçar relacionamentos interpessoais, todos eles extremamente dolorosos. Todos nós, sem  exceção, já vivemos direta ou indiretamente situações como a dos personagens. Ao começar a ler essa "crítica", você talvez vá querer desistir de continuar a lê-la (e principalmente vai querer desistir de ver o filme, ainda mais quando souber que tem duração de mais de três horas), porque no nosso íntimo, tendemos a fugir de sofrimentos, mesmo que alheios, ainda mais se podem nos fazer lembrar de um dos nossos.

Mas não, não desista. O filme é sobre relacionamentos problemáticos sim, entre casais, entre pais e filhos, entre profissionais, e aborda temas polêmicos como drogas, violência, incesto e homossexualidade (sutilmente, sem ser explícito nessas cenas), mas apesar de tudo, não é um filme pessimista, ao contrário, antes de qualquer coisa, o filme é sobre perdão, resignação e compreensão. O filme deixa como mensagem que é possível haver mudanças, que os encontros são possíveis, que é possível perdoar.

O filme ameniza o desespero e desencontros dos seus diversos personagens, com muita música ao fundo, como sucessos como os do Super Tramp ("Goodbye stranger") e de Aimee Mann ("Save me") e a cena inusitada dos próprios personagens cantando a música "Wise up" ao fundo - lembra um clipe - cada um iniciando uma estrofe da música, sendo retomada a letra pelo personagem seguinte (numa alusão a um silencioso encontro, conforto e cumplicidade entre os personagens) - veja a cena no final do texto.

O filme mostra um dia na vida de vários moradores dos arredores da rua Magnólia, em Los Angeles,  num dia atípico naquela cidade (em geral ensolarada), chuvoso, com tempestades e ruas escuras, e vivenciaremos muitas histórias paralelas, aparentemente confusas, sem um fio condutor bem definido, mas que aos poucos se ligam e interligam num turbilhão de tramas  aparentemente caóticas.

Um timaço de atores como Philip Seymour Hoffman (excelente como sempre), Tom Cruise (surpreende no papel de machista resignado) e Julianne Moore (brilhante atuação) estão à vontade nos seus papéis, apesar de todos os personagens ter contas a acertar com o passado e carregarem consigo fortes sentimentos de culpa, medos e arrependimentos.

Temas difíceis de digerir como morte, ódio, solidão, culpas, são como dardos pontiagudos que atravessam nossa carne, corroem nossa alma, mas é impossível não vivenciá-las, faz parte da vida, assim como a esperança, o perdão e os sonhos.

"Magnólia" não é um filme fácil de explicar, é um filme prá ver e rever para captar os detalhes e as mensagens contidas (e escondidas) em suas cenas dinâmicas, ágeis em jogos de cenas (por isso as mais de três horas passam rápido), cheias de cortes rápidos e bruscos, de zooms e de referências bíblicas e históricas. 

A cena da estranha chuva de sapos (há cartazes "escondidos" no filme em referência ao texto bíblico do "Êxodo" - tente achá-los) é uma referência aos milagres e "acasos" da vida, numa alusão de que, se é possível "chover sapos" (o menino em sua inocente crença repete insistentemente, vendo de sua janela os sapos caindo do céu, "isso acontece, isso realmente pode acontecer"), então também pode-se acreditar em milagres e no perdão,

e essa cena aparentemente absurda (a chuva de sapos), que poderia ser "um castigo de Deus", nos mostra que, às vezes, por meio de situações dramáticas e absurdas, podemos encontrar o verdadeiro sentido das coisas (será que Deus escreve mesmo certo, por linhas tortas?).

E por causa da chuva de sapos, milagres e "acasos" acontecem com os personagens, e a redenção final se dá no sorriso discreto, mas confiante, no rosto da personagem vítima de incesto e viciada em cocaína, lavando nossa alma de confiança e esperança de que dias melhores virão.

Pesado, mas tocante e encantador. Não deixe de ver. Eu recomendo.


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